Não, não me esqueci que tenho este blog! (a anestesia não foi assim tão forte...)
Mas ainda não recuperei a energia necessária para continuar....
Quem sabe, o sol e as cerejas de Junho me iluminem...
31 de maio de 2007
20 de maio de 2007
19 de maio de 2007
17 de maio de 2007
Ele
Ela vacilou, olhou para baixo e sentou-se. Tudo em seu redor rodopiava, dentro de si ocorria um turbilhão de emoções e pensou que ele diria: “um redemoinho de emoções”. Desde pequeno, de muito pequeno, que ele gostava de repetir a palavra redemoinho, seria o som ou a forma como a palavra se enrola na boca que ele apreciaria? De novo a náusea, de novo o vazio. Ela inspirou o feiticeiro som da voz dele e decidiu que não o queria deixar, que não o podia deixar. No instante, discerniu o essencial: nada importava para além dele. O seu universo começava no exacto contorno do seu abraço, na prega mais íntima do seu corpo, no seu sorriso desabrido, no seu beicinho avassalador, tudo o resto não era suficientemente relevante para induzir qualquer decisão. Só ele, na sua ingénua pensante existência justificava que o universo dela continuasse para além da náusea, para além do medo…
16 de maio de 2007
Se....
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá Carneiro
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá Carneiro
14 de maio de 2007
Notícias do Medo III
Um dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer com que as coisas não pareçam o que são."
Miguel de Cervantes in "Dom Quixote"
Miguel de Cervantes in "Dom Quixote"
Notícias do Medo II
"Há alguma coisa aqui que me dá medo. Quando eu descobrir o que me assusta, saberei também o que amo aqui. O medo sempre me guiou para o que eu quero. E porque eu quero, temo. Muitas vezes foi o medo que me pegou pela mão e me levou. O medo leva-me ao perigo. E tudo o que eu amo é arriscado". Clarice Lispector
Posted in Jardimdinverno
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10 de maio de 2007
Peregrinação erótica?
Um mapa de Fátima que está a ser distribuído aos peregrinos por ocasião das comemorações dos 90 anos das Aparições contém anúncios referentes a sites de venda de artigos sexuais ao lado de publicidade religiosa.
De acordo com a agência Lusa, o roteiro, distribuído gratuitamente por uma empresa de publicidade, inclui vários cartões de publicidade, muitos deles com referência a instituições religiosas da cidade de Fátima, mas conta com duas publicidades que não «combinam» com o espírito da peregrinação internacional de Maio.
Os sites indicados promovem artigos afrodisíacos e instrumentos sexuais, propostas que não agradam aos peregrinos que escolheram esta semana Fátima para rezar.
Afinal ir a Fátima pode ser divertido! :)
De acordo com a agência Lusa, o roteiro, distribuído gratuitamente por uma empresa de publicidade, inclui vários cartões de publicidade, muitos deles com referência a instituições religiosas da cidade de Fátima, mas conta com duas publicidades que não «combinam» com o espírito da peregrinação internacional de Maio.
Os sites indicados promovem artigos afrodisíacos e instrumentos sexuais, propostas que não agradam aos peregrinos que escolheram esta semana Fátima para rezar.
Afinal ir a Fátima pode ser divertido! :)
8 de maio de 2007
Opinião
CALEM-ME A CRIANCINHA QUE NÃO CONSIGO MASTIGAR
João Miguel Tavares
Jornalista
jmtavares@dn.pt
Estava Miguel Sousa Tavares na TVI a comentar a nova Lei do Tabaco quando da sua boca saltou esta pérola: o fumo nos restaurantes, que o Governo quer limitar, incomoda muitíssimo menos do que o barulho das crianças - e a estas não há quem lhes corte o pio. Que bela comparação. Afinal, o que é uma nuvenzinha de nicotina ao pé de um miúdo de goela aberta? Vai daí, para justificar a fineza do seu raciocínio, Sousa Tavares avançou para uma confissão pessoal: "Tive a sorte de os meus pais só me levarem a um restaurante quando tinha 13 anos." Há umas décadas, era mais ou menos a idade em que o pai levava o menino ao prostíbulo para perder a virgindade. O Miguel teve uma educação moderna - aos 13 anos, levaram-no pela primeira vez a comer fora.
Senti-me tocado e fiz uma revisão de vida. É que eu sou daqueles que levam os filhos aos restaurantes. Mais do que isso. Sou daquela classe que Miguel Sousa Tavares considerou a mais ameaçadora e aberrante: os que levam "até bebés de carrinho!". A minha filha de três anos já infectou estabelecimentos um pouco por todo o país, e o meu filho de 14 meses babou-se por cima de duas ou três toalhas respeitáveis. É certo que eles não pertencem à categoria CSI (Criancinhas Simplesmente Insuportáveis), já que assim de repente não me parece que tenham por hábito exibir a glote cada vez que comem fora - mas, também, quem é que acredita nas palavras de um pai? E depois, há todo aquele vasto campo de imponderáveis: antes de os termos, estamos certos de que vão ser CEE (Crianças Exemplarmente Educadas), mas depois saltam cá para fora, começam a crescer e percebemos com tristeza que vêm munidos de vontade própria, que nem sempre somos capazes de controlar.
O que fazer, então? Mantê-los fechados em casa? Acorrentá-los a uma perna do sofá? É uma hipótese, mas mesmo essa é só para quem pode. Na verdade, do alto da sua burguesia endinheirada, e sem certamente se aperceber disso, Miguel Sousa Tavares produziu o comentário mais snobe do ano. Porque, das duas uma, ou os seus pais estiveram 13 anos sem comer fora, num admirável sacrifício pelo bem-estar do próximo, ou então tinham alguém em casa ou na família para lhes tomar conta dos filhinhos quando saíam para a patuscada. E isso, caro Miguel, não é boa educação - é privilégio de classe. Muita gente leva consigo a prole para um restaurante porque, para além do desejo de estar em família, pura e simplesmente não tem ninguém que cuide dos filhos enquanto palita os dentes. Avós à mão e boas empregadas não calham a todos. A não ser que, em nome do supremo amor às boas maneiras, se faça como os paizinhos da pequena Madeleine: deixá-la em casa a dormir com os irmãos, que é para não incomodar o jantar.
João Miguel Tavares
Jornalista
jmtavares@dn.pt
Estava Miguel Sousa Tavares na TVI a comentar a nova Lei do Tabaco quando da sua boca saltou esta pérola: o fumo nos restaurantes, que o Governo quer limitar, incomoda muitíssimo menos do que o barulho das crianças - e a estas não há quem lhes corte o pio. Que bela comparação. Afinal, o que é uma nuvenzinha de nicotina ao pé de um miúdo de goela aberta? Vai daí, para justificar a fineza do seu raciocínio, Sousa Tavares avançou para uma confissão pessoal: "Tive a sorte de os meus pais só me levarem a um restaurante quando tinha 13 anos." Há umas décadas, era mais ou menos a idade em que o pai levava o menino ao prostíbulo para perder a virgindade. O Miguel teve uma educação moderna - aos 13 anos, levaram-no pela primeira vez a comer fora.
Senti-me tocado e fiz uma revisão de vida. É que eu sou daqueles que levam os filhos aos restaurantes. Mais do que isso. Sou daquela classe que Miguel Sousa Tavares considerou a mais ameaçadora e aberrante: os que levam "até bebés de carrinho!". A minha filha de três anos já infectou estabelecimentos um pouco por todo o país, e o meu filho de 14 meses babou-se por cima de duas ou três toalhas respeitáveis. É certo que eles não pertencem à categoria CSI (Criancinhas Simplesmente Insuportáveis), já que assim de repente não me parece que tenham por hábito exibir a glote cada vez que comem fora - mas, também, quem é que acredita nas palavras de um pai? E depois, há todo aquele vasto campo de imponderáveis: antes de os termos, estamos certos de que vão ser CEE (Crianças Exemplarmente Educadas), mas depois saltam cá para fora, começam a crescer e percebemos com tristeza que vêm munidos de vontade própria, que nem sempre somos capazes de controlar.
O que fazer, então? Mantê-los fechados em casa? Acorrentá-los a uma perna do sofá? É uma hipótese, mas mesmo essa é só para quem pode. Na verdade, do alto da sua burguesia endinheirada, e sem certamente se aperceber disso, Miguel Sousa Tavares produziu o comentário mais snobe do ano. Porque, das duas uma, ou os seus pais estiveram 13 anos sem comer fora, num admirável sacrifício pelo bem-estar do próximo, ou então tinham alguém em casa ou na família para lhes tomar conta dos filhinhos quando saíam para a patuscada. E isso, caro Miguel, não é boa educação - é privilégio de classe. Muita gente leva consigo a prole para um restaurante porque, para além do desejo de estar em família, pura e simplesmente não tem ninguém que cuide dos filhos enquanto palita os dentes. Avós à mão e boas empregadas não calham a todos. A não ser que, em nome do supremo amor às boas maneiras, se faça como os paizinhos da pequena Madeleine: deixá-la em casa a dormir com os irmãos, que é para não incomodar o jantar.
7 de maio de 2007
Fim-de-semana
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