27 de março de 2008

Semântica

Deparo-me com o problema de não encontrar a palavra certa para exprimir um sentimento (e nós lusos que nos orgulhamos de ter palavras para tudo, até para saudade), como dizer da felicidade que partilho por alguém que vivia nas mesmas circunstâncias adversas ter conseguido a liberdade, ainda que eu tenha ficado. È o regozijo pela vitória do outro, ainda que nós queiramos também alcançar o mesmo destino. Como é que chamo a isto?

24 de março de 2008

Dilema

Há tempos, num blog que gosto de ler, discutia-se qualquer coisa como: preferir que uma filha fosse prostituta versus andar a limpar casa de banho em centros de comerciais. Ainda meti o bedelho na conversa, mas fiquei-me por um simples comentário mais ou menos provocatório, mas a coisa das casas de banho sempre me fez impressão, porque tanta coisa com casas de banho e não outra coisa qualquer….
Ora a semana passada, a minha Gracinda teve que ajudar a sua filha e não veio a semana inteirinha. (Espero que volte rapidamente…) Assim, depois do pânico inicial, as coisas lá se foram fazendo, aspirar pelos de cão (houve voluntário), camas feitas de lavado (houve ajuda); cozinha e casa de banho, que limpei e esfreguei com todo o gosto e primor, com a “ajuda” de um rapazinho que não resiste a meter as mãos na água, agora engomar, essa é que é essa, nem voluntários, nem ajuda, nem nada. Seleccionado o estritamente indispensável comecei a tarefa, a coisa é horrível, ao fim de minutos doem as pernas, doem as costas, dói o braço, dói o ombro, o tempo não passa, os vincos não ficam certos, as mangas arrepanham, engomasse de um lado enrugasse do outro, raios de tarefa, começo a desatinar: em pleno Séc XXI a porcaria da roupa ainda precisa de ser engomada porquê? E foi neste martírio que me lembrei da discussão do blog e de como a questão poderia ter sido bastante mais complexa, um verdadeiro dilema: ter uma filha prostituta versus uma que tivesse que levar o dia inteiro a passar a ferro naquelas engomadorias deprimentes. Aí sim, depois do que passei naquelas duas horas, confesso que não saberia o que responder. È que se em lavar uma casa de banho pública há o poder (e o poder dá auto-estima) de encerrar a própria para as lavagens e deixar uma fila de gente desesperada para aliviar as suas necessidades básicas, numa engomadoria nada resta, para além das dores, do calor, do vapor e do desconforto, pois se por vingança se queimar uma peça de roupa deve dar uma grande confusão e acabar em despedimento.

A taça Piston!

Ninguém vê futebol nesta casa, nem a selecção nacional, mas quando joga o Vitória eu não resisto a espreitar. Sábado à noite, na sala a ler um livro vou espreitando o jogo, ele brinca aos meus pés, faz filas de carros e acidentes, chama o INEM e a PSP. No frenesim dos penaltis paro de ler e fico a ver... peço-lhe para vir para o pé de mim. Aperto-o com força. Sustenho a respiração e grito no fim: "Vitória. Vitória. O Vitória ganhou a Taça, filho!". Dou-lhe beijinhos, faço a festa, continuo a gritaria....Ele olha para mim e diz: "eles ganharam a Taça Piston, mãe, como o Faísca McQuen?". "Foi filho, foi isso mesmo o VFC ganhou a taça Piston"- e assim, para espanto do pai, passámos a ser dois a gritar a vitória do Vitória.

17 de março de 2008

O dia do pai



Sexta-feira passada recebi uma mensagem, do colégio do puto, a informar que uma vez que o dia do pai acontecia em período de férias, as “comemorações” (seja lá o que isso for?) ocorreriam juntamente com as do dia da mãe, ou seja, este ano haverá um dia conjunto para festejar a família. Abençoado calendário escolar que, pelo menos este ano, acabou com as divisões estereotipadas de se ser pai e mãe. Não digo, que não o sejamos de modo absolutamente diferente, homens e mulheres, pessoas que frequentemente olham o universo e vivem a sua vida e os seus afectos de modo diverso, muitas vezes até desconforme, mas os nossos filhos, aqueles que tem o privilégio de ter pai e mãe (a viver ou não uma relação de conjugalidade) deveriam crescer conscientes da unicidade desta cooresponsabilidade, e da segurança do nosso amor conjunto para com eles e não festejar de forma desgarrada e comercial e dia do pai e o dia da mãe. Por isso, acabe-se com os estes dias avulsos e vivam-se diariamente os dias da parentalidade partilhada.

14 de março de 2008

PSD - As imagens.


Entre o azul afundanço e o rosa-cueca o meu coração balança. A seta erecta ambicionando o céu ainda se mantém, (embora menos pujante) até quando?

11 de março de 2008

Revivalismo


Sexta-feira à noite, filho na avó, pai do filho a trabalhar logo, noite de gajas (estoiradas por uma semana de trabalho, mas gajas solidárias na solteirice tão rara). Assim, grande programa: jantar fora, num exótico baratinho para pôr a conversa em dia e depois voltar para casa para beber um cházinho e vermos a reposição da novela da nossa adolescência, a Vila Faia. Mas a coisa não correu bem, o chá estava bestial, agora a telenovela: o vilão metia nojo de tão mal interpretado, o galã tem uma guedelha que nem o menino Jesus nos seus piores dias e como actor também deixa um bocadinho a desejar, aliás os actores de forma geral representavam tão bem como bananas, e o grande incêndio foi do piorzinho, até se viam as acendalhas a explodir. E depois, as incoerências no enredo eram mais que muitas, as melhores foram mesmo: a cenaça de com o fogo à porta de casa a senhora matriarca para salvar as pratas as deitar uma a uma para dentro da piscina, em vez de despejar a canastra de uma acentada, e senhores guionistas, por pior que o trânsito ande em Lisboa não se pode demorar o mesmo tempo a chegar do Bairro Alto e de Azeitão ao Aeroporto (só se houvesse jogo num dos da 2º circular e aí talvez a coisa pudesse ser, ou se o aeroporto já for em Alcochete). Claro que acabámos às gargalhadas e mudámos de canal! Santa inocência, estava-se mesmo a ver que isto de revivalismo ia dar mau resultado. O melhor é preservar na memória a primeira grande telenovela portuguesa e pronto!
Ainda bem que temos sempre muito que conversar e a FoxLife passa boas séries!

7 de março de 2008

8 de Março

È moda, é bem, as próprias mulheres, desprimorarem o 8 de Março, porque nós superiormente e culturalmente ocidentais, já temos isto, e aquilo e aqueloutro, e afinal já nada há que justifique o folclore deste dia. Os direitos estão conquistados e a conversa fica arrumada por aqui.

Não penso assim, ainda que despense o folclore o "dia da mulher" continua a fazer todo o sentido, e fará sempre, enquanto uma de nós continuar desempregada por responder numa entrevista de emprego que pensa ser mãe, enquanto uma de nós ganhar um salário inferior para a mesma função, enquanto uma de nós for humilhada e assediada só por ser mulher, enquanto uma de nós for excisada para lhe roubarem o prazer de ter prazer, enquanto uma de nós for batida por ser mais fraca fisicamente, enquanto uma de nós for tratada como um objecto, enquanto cada uma de nós não for capaz de exigir o respeito que lhe é devido.

Este não é um dia para receber flores e beijinhos, deve ser um dia para a reflexão (pessoal ou partilhada) da qualidade da nossa vida desgastadamente plural e deve permitir que todos(as) (incluindo nós) reconheçam as nossas idiossincrasias e a genialidade da nossa diferença.

5 de março de 2008

Carjacking

Ao telemóvel chega uma mensagem da Vodafone: “por ter um tarifário pós-pago está automaticamente habilitado ao sorteio de um Mercedes a realizar no dia 31 de Março”.
Safa! Se até há uns tempos poderia ficar durante uns segundos a delirar sobre o que faria quando me saísse um Mercedes-Benz novinho em folha (embora a marca cheire a construtor civil da tanga, mas pronto a cavalo dado...), agora não só não quero um carro novo, como não quero Mercedes nenhum. Por isso, caros senhores da Vodafone obrigadinho por se lembrarem de mim, mas prefiro o meu jipe velhinho, que dos 0 aos 100km/hora deve demorar aí 10 minutos, e não correr riscos de ser abalroada por uns tipos malucos nem levar um tiro por dá cá o material.

Engraçado como esta coisa do carjacking veio também alterar a percepção que tenho da relação dos homens com os seus super carros, pois, de cada vez que via um gajo ao volante de um carrão (sou uma verdadeira apreciadora dos que se passeiam na cidade de capota baixa em noites frias de inverno, olá se sou!), pensava: “coitado, para além de careca e baixote ou tem disfunção eréctil ou apenas 10 cm de pénis, só lhe resta mesmo isto”, agora penso: “o parvo do gajo mesmo com disfunção eréctil ou com apenas 10 cm de pénis, ainda tem tomates” e aqui há uma incoerência qualquer com a qual não convivo bem…
(ou será que são tão infelizes que nem têm amor à vida (?) :)

3 de março de 2008

Os sábados




Os sábados são infernais, mantemos toda adrenalina de um dia de semana à qual acrescentamos a angústia de ser suposto descansar. Não chegasse o dilema existencial acresce que aos sábados todos os pensionistas do país saem à rua. Invadem estradas, cabeleireiros, mercados, supermercados, no seu ritmo lento e vagaroso de quem não tem nada que fazer, sobretudo sem a urgência de quem tem apenas umas escassas 48 horas para repor energias e fazer tudo o que não conseguiu durante a semana. Este é o mistério insondável com o qual me deparo todos os sábados, e que me faz perder a compostura e a paciência: porque é que esta gente que tem toda a semana para fazer o que eu tenho para fazer ao sábado, o faz também ao sábado?
Irra, que é preciso paciência. E eu estou mesmo sem nenhuma. Se mais alguma sénior de olhar tranquilo e mise de rolos, acabadinha de fazer, se atravessa com o cestinho do super à minha frente dou-lhe um valente empurrão, juro que dou!