29 de setembro de 2010

A lei da letra


Educar um filho é do caraças!
Ele aprendeu comigo este raciocínio obstinado que exige a razão das coisas mais inexplicáveis. Desde há duas semanas que as discussões se sucedem nas longas horas de fazer os trabalhos de casa. Ele debate-se, contrariado, com o seu caderno pautado e as letras desenhadas que a caligrafia exige. E discute, e resfolega e questiona: “mas mãe, se sei escrever e toda a gente consegue ler o que escrevo (em letra de imprensa), porque é que o tenho de aprender a escrever nesta letra estúpida redondinha e cheia de caracóis”. Eu engulo em seco, de facto porque é que os miúdos têm de aprender caligrafia, vão passar o resto da sua vida a teclar ou a gatafunhar com as letras mais inenarráveis do mundo, mas lá tenho que responder com bacocos argumentos políticos: “faz parte do processo de aprendizagem, e aprender é crescer e depois de aprenderes a escrever com esta letra redondinha vais encontrar a tua própria letra que vai ser a tua assinatura para o resto da tua vida e isso é muito importante para a construção da tua identidade, bla, bla, bla…”.
Ele olha para mim desconfiado, a minha voz não é suficientemente convicta, sorrio e beijo-lhe o cabelo, e no meio destas tréguas em que ambos sabemos da estupidez do faz-se porque tem de ser, ele lá continua a morder a língua e a desenhar o alfabeto dos caracóis…

22 de setembro de 2010


Não gosto do fim do Verão. Logo, não gosto d'hoje.

16 de setembro de 2010

Recado para Pedro, I

Não me incomoda a ideia da revisão do nosso texto fundamental. Do que li, gostei. Não vale a pena continuarmos a brincar aos países de economia socialista (socializada) se até o grande mentor vivo (?) da coisa, o camarada Fidel, acaba de reconhecer que o modelo não funciona, nem na sua "isla mágica".

Mas não deixo de estar um bocadinho apreensiva pelo coordenador do grupo da revisão ser um senhor aposentado precocemente, da banca, por invalidez devido a doença psiquiátrica, com milionária reforma...

(não me parece a melhor escolha! porque será?)

(a)Normalidade

Afinal há cenas que não me aconteçem só a mim! E até há mais gente a pensar como eu!
Fico feliz pela minha normalidade.

10 de setembro de 2010

A inocência ou o pecado - o caso CPLx

Hesito em escrever este post. Resisto em escrevê-lo. Quando me interpelam sobre o assunto só me apetece responder:”não sei, não sei, não sei!”. Eu, gaja opiniosa, tão certa de tudo e de nada, aqui me confesso: neste assunto não consigo ter opinião formada.

Se por um lado reconheço que em matéria da sexualidade tudo é possível, [não seja eu uma amante de literatura erótica] [e se ainda se me restavam dúvidas fiquei curada numa “célebre “ visita ao Museu do Sexo de Amesterdão sobretudo na sala dedicada às aberrações – que voltas que eu dei ao pescoço para perceber bem algumas imagens e materiais expostos - ], podendo o/a aparentemente mais “santo/a” dos homens/mulheres ser um(a) devasso/a em potência na sua intimidade [não ponho as mãos no fogo por absolutamente ninguém! – ui a discussão que isto deu ontem ao jantar!].

Se reconheço igualmente, que na dimensão humana, uma mentira repetida inúmeras vezes se torna uma verdade vivida e irrenunciável.

Já tenho menos confiança no processo de investigação [li a página do CC e os factos apresentados são absolutamente chocantes pelas dúvidas que suscitam].

Também sei muito bem em que país vivo, onde os “jeitos” a “manipulação” os “favores de uma mão lava a outra”, a maçonaria, a opus dei e algumas corporações têm um poder inenarrável. [as minúsculas foram propositadas]. Por outro lado, é possível, ainda assim, montar um esquema tão bem urdido que incrimine deliberadamente uns para safar outros? Há gente assim tão boa e inteligente? Ou os responsáveis da investigação foram “apenas” negligentes e manipulados?


Em suma, não sei se acredito nos olhos do homem que grita mais alto ser inocente [admiro profundamente aqueles que acreditam na sua inocência, sobretudo a sua mulher, pois em mim haveria sempre uma réstia de dúvida pelos argumentos apresentados no segundo paragrafo], acredito nas vítimas abusadas [não sei é se acusam os homens certos e tenho quase a certeza que não acusam todos os que deles abusaram], não acredito na justiça portuguesa, nem no Estado, enquanto cuidador e protector de crianças e jovens.

E pronto é tudo o que no momento tenho para dizer sobre o assunto. Não me voltem a perguntar está bem?

FASHION'S NIGHT OUT


Lisboa devia ser sempre assim. Bonita, iluminada, animada, viva, divertida, cosmopolita.

Ontem, definitivamente, Lisboa foi a minha cidade. ( pena a "brisa" desagradável que nos lembrava já o Outono).


Amei.


Amo Lisboa. (Pena ser gerida por quem é. Bom, mas isso já são outras conversas e ódios de estimação....)

5 de setembro de 2010

Depois da Festa - recado para ti

Gajo,
Acabo de chegar da "Festa" e a adrenalina não me deixa dormir. Não há mesmo nenhuma festa como esta.
Amei descobrir que ainda sou capaz de ser livre, descomprometida, maluca e mais ou menos feliz num recinto repleto de milhares de pessoas.
Diverti-me como uma adolescente: dancei, gritei, cantei, troquei ideias "sóciopolíticas" com estranhos, bebi bom vinho e muita água e dei boas gargalhadas.
A Sinfonietta de Lisboa com o Laginha e o Rosado, os Naifa, os Baile Popular, os Sasseti Trio, [e muitos outros dos quais nem sei o nome] e o grande, fantástico, maravilhoso, inspirador, Pedro Abrunhosa fizeram tudo, tudo, valer a pena.
Mas confesso que senti falta de duas coisas:
- de ti, porque isto de ver/ouvir o Pedro sem namorar é ...esquisito;
- e de uma tenda vip [maus hábitos], com pufs, vista de primeira e um belo catering porque eu já não tenho paciência para as democráticas filas das comidas e bebidas, nem costas para aguentar horas de rabo no chão.
Ora aqui estão os dois desejos mais improváveis de realizar na minha vida [nem com a ajuda da fada madrinha da Cinderela], eu sei. Aliás, mais depressa poderiam os camaradas encontrar um argumento para criar a minha tenda vip do que tu pores o pé em recinto vermelho.
Gajo palerma e teimoso. Nem sabes o que perdes!
Se eu conseguir a tenda vip, tu vens para o ano?

3 de setembro de 2010

Avantares


Hoje e amanhã vou Avantar .
Oito anos depois regresso à Atalaia.
Eu e a minha irmã João, companheiras de vida, de festas, de gargalhadas, viagens e prantos, vamos abandonar as nossas cómodas vidas burguesas, deixar os SUV da moda nas respectivas garagens e partir de transportes públicos [verdadeira aventura épica] para aquele mundo diferente, qual Pandora, onde os senhores doutores e os “vocês” ficam à porta e todos se tratam solidariamente por tu e por camarada, com a simplicidade e companheirismo dos Na´vi.

Este anos deu-nos para isto, talvez seja a nostalgia dos 40, a demanda do elixir da eterna juventude que nos recusamos a perder, o programa cultural que se anuncia, a vontade de nos estendermos na relva sozinhas a beber vodka com laranja e a sentir o cheirinho das ganzas dos vizinhos do lado, sem pensar na vida, na família, nos filhos, nos processos em cima das secretárias, abandonando por horas este sermos as senhoras respeitáveis [?] em que nos transformámos. Nestes dois dias queremos avatar no Avante.

Não nos podemos esquecer que na nossa adolescência esta era “a Festa”, um dos raros festivais de Verão perto de Lisboa, e o único sítio para ouvir sons de outros mundos. Na Festa vi nascer e acabar os Trovante. Na década de 80, ouvi os maiores da música brasileira (inesquecíveis os concertos de Gilberto Gil, Caetano, Alceu Valença), também na Festa vi acabar os Salada de Fruta [quem se lembra deles?] e ouvi poesia dita por Mário Viegas.

Na Festa vivi das maiores experiência da minha adolescência [que me escuso de contar porque a minha mãe pode vir espreitar este post], mas sim, meteram álcool, sexo e mais uns produtinhos ilegais. Era uma semana inteirinha de liberdade, acampados antes, durante e depois da Festa a conhecer gente de todo o país e de “todo” o mundo, ou melhor, do mundo ainda comunista. A Festa marcou, como uma tatuagem que não mais sai da pele, a minha adolescência e início da idade adulta como espaço de liberdade e iniciação. Abençoada Festa.

E se na adolescência o meu coração era vermelho, [como diz a canção da Fafá] confesso que desde há alguns anos alaranjou, e muito, pois passou a acreditar num modelo social-democrata de organização social sustentada na livre iniciativa caracterizadora de uma economia aberta de mercado, própria das sociedades contemporâneas [hoje sou uma burguesinha alfacinha, sempre na moda, carregada de berloques e pulseiras, com empregada doméstica a tratar da casa e com o seu filhote a frequentar dos melhores colégios católicos da cidade, quem diria?].

Mas a festa é muito mais que a cor do coração, a festa é um espaço e um tempo diferente, fora da realidade, talvez seja mais um planeta gasoso que órbita no sistema Alpha Centauri, onde vou procurar aportar mais uma vez…

Só espero que a minha alma, ainda permaneça tão simples, iluminada e permeável á diferença, que não me permita desiludir…

E, meu gajo, não fiques preocupado, vou tentar não voltar para casa, a desoras, a cantar a “Internacional”.

1 de setembro de 2010

Recado Irritado


Sr. Queiroz,
que fique claro que não o aprecio especialmente, nem o tenho em muito boa conta.
Mas a ignorância incomoda-me (que raio de feitio o meu sobretudo às primeiras horas do dia).Ouvir no noticiário das 8.00h da TSF a sua ladainha vitimizada, no meu percurso de 10 minutos casa/convento, chateia. Olhe, não vale a pena tanta coisa, deixe lá a conversa da honra e do bom nome, aceite os seus milharzinhos e vá a banhos. O senhor não me parece assim tão parvo (como agorinha no rádio do carro queria fazer parecer) e quando aceitou treinar as estrelitas nacionais para aquela cambada da Federação e do Governo sabia com quem se estava a meter, e como eles dizem :"quem se mete com eles, leva!". Por isso meta a viola no saco e da próxima vez veja lá se, quando assumir um compromisso destes, verifica se tem o cartão da cor certa (é que não precisa de mais nada, nem mesmo de saber treinar porque os rapazes são tão bons que até jogam bem sem treinador).

Tenha um bom dia. Que eu agora vou tomar o pequeno-almoço a ver se melhoro de humores...