20 de março de 2013

19 de março

Fico sempre enternecida quando os vejo, aos dois, entre legos e ferramentas a sério.
E também, quando enfiam a cabeça no aquário a discutir espécies de peixes e micoses, quando mexem na terra dos vasos de terraço ou quando adormecem juntos no sofá a ver futebol.
E até mesmo, quando ficam os dois a bater o pé na porta das lojas de roupa onde entro (e não consigo comprar nada com tanta pressão).
Adoro vê-los juntos.
Tão iguais e tão diferentes, como só pai e filho podem ser.
E comovo-me.




E orgulho-me de mim, porque consegui dar ao meu filho um pai.
O pai que não tive.

A Fé dos Homens


Francisco é fé e esperança para muitos.

Eu, tenho acompanhado com o distanciamento necessário, de quem não nasceu com o dom da fé (e foi a Roma e não pisou convictamente solo da cidade do Vaticano), esta euforia [de vontade] de mudança de uma igreja milenar.

Anuncia-se que Francisco as fará no seu comportamento e nas suas palavras.

Vejo, no entanto, as imagens do seu entronizamento, e duvido!
A homilia é sobre pobres, como fica bem. Mas as mulheres mais poderosas do mundo continuam de negro e de cabelos cobertos perante uma religião que teme reconhecer que nas mulheres subjaz o poder primordial [nelas está o princípio de todo o ser].

 Fico, no entanto com uma certeza, este Papa é o sonho de qualquer terrorista, franco-atirador, ou fanático e o pesadelo, mais negro, de qualquer segurança.

Aguardo os próximos episódios.
Gostaria muito mais, que fossem de mudança: em relação ao divórcio, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao papel da mulher na igreja e no mundo, aos contracetivos, ao fim do celibato obrigatório dos padres católicos, ao reconhecimento do preservativo como meio de prevenção das DST, do que de Francisco num banho de sangue.
Mas temo que o segundo cenário seja mais provável que o primeiro.

Temo.

 

11 de março de 2013

Pensar 2...(ainda não é taxado!)


Se há matéria que me preocupa é esta.
E vejo tanto desinteresse...

Pensar 1...(ainda não é taxado!)


Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas
esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.

Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo
epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da
Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No
último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença
psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas
perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com
impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência,
urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das
crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens
infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos
dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos
os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na
escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos
terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade
de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural
que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos,
criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze
anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100
casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo
das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres
humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas
sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém
maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa,
deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos
ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de
alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez
mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.
Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença
prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e
produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de
três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a
casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma
mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão
cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três
anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de
desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho
presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela
falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição
da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual,
tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar
que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês,
enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à
actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e
complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de
escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando
já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com
responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos
números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de
pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um
mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de
um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência
neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o
estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se
há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma
inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso
Médico Psiquiatra
In Público

7 de março de 2013

desaparecer

que campanha fantasticamente brutal!
mas nunca tão brutal quando a realidade vivida.
Perder um filho é de fato deixar de existir.


Hugo

gosto, naturalmente, de loucos
empatizo com gente que tem sentido de humor
sempre admirei pessoas de convicções (ainda que discutíveis)

por isso acompanhava, com interesse, o Hugo desde a sua chegada ao poder.
transparecia  nele uma infantilidade imberbe ao acreditar na  força da revolução,
nos seus longos discursos (alguns absolutamente hilariantes) havia a convicção do menino que quer ser um Zorro, ainda que depois o homem e os desvarios do poder pudessem contradizer a inocência primordial dos seus ideais.

como homem que era, adoeceu e morreu.
como personagem que foi permanecerá um mito.
será para sempre um fazedor da revolução (qualquer que ela seja)



março

Março é o mês da dieta.
O mês em que se troca qualquer comida por uma folha de alface e um copo de água.
As férias, o bikini, a praia, as farras com os amigos, a vida boa... anunciam-se.
Mas este março 2013 é traidor...
É impossível não mergulhar num chocolate quente, num pão de Deus, numa feijoada, em tortas de Azeitão... com este frio, esta chuva e esta depressão coletiva.

Para quê emagrecer se não se vislumbra o verão?