29 de setembro de 2010

A lei da letra


Educar um filho é do caraças!
Ele aprendeu comigo este raciocínio obstinado que exige a razão das coisas mais inexplicáveis. Desde há duas semanas que as discussões se sucedem nas longas horas de fazer os trabalhos de casa. Ele debate-se, contrariado, com o seu caderno pautado e as letras desenhadas que a caligrafia exige. E discute, e resfolega e questiona: “mas mãe, se sei escrever e toda a gente consegue ler o que escrevo (em letra de imprensa), porque é que o tenho de aprender a escrever nesta letra estúpida redondinha e cheia de caracóis”. Eu engulo em seco, de facto porque é que os miúdos têm de aprender caligrafia, vão passar o resto da sua vida a teclar ou a gatafunhar com as letras mais inenarráveis do mundo, mas lá tenho que responder com bacocos argumentos políticos: “faz parte do processo de aprendizagem, e aprender é crescer e depois de aprenderes a escrever com esta letra redondinha vais encontrar a tua própria letra que vai ser a tua assinatura para o resto da tua vida e isso é muito importante para a construção da tua identidade, bla, bla, bla…”.
Ele olha para mim desconfiado, a minha voz não é suficientemente convicta, sorrio e beijo-lhe o cabelo, e no meio destas tréguas em que ambos sabemos da estupidez do faz-se porque tem de ser, ele lá continua a morder a língua e a desenhar o alfabeto dos caracóis…

1 comentário:

Brisa disse...

Há teimas difíceis de argumentar, principalmente quando vemos que fazem sentido.