Não, não vou escrever sobre o caso Castro vs Seabra, nem sobre o julgamento do pai que espancou o seu filho bebé até à morte. Também não me quero pronunciar casuisticamente sobre dezenas de crimes passionais ou fraticídas, que com frequência enchem as gordas da nossa imprensa. O que me fascina (e preocupa), em todos eles, é o seu traço comum: o salto no limbo. O momento, em que cada um dos criminosos deixou de ser racional e do mais fundo do seu ser soltou uma raiva cega para cumprir aquilo que, naquele momento, considerou essencial à sua sobrevivência.
Tenho passado toda a minha vida cativada por isto… qual é a chave, o detonador, que despoleta o instante em que um pessoa se transforma em besta: quando é que o ciúme se torna tão insuportável que só a morte acalma, quando é que a cobiça por um palmo de terra assume um perfil mortal, que nível de cansaço e desespero exige a necessidade absoluta de calar para sempre o outro, quando é que uma ofensa necessita de ser cobrada com sangue, a partir de que momento o abuso só se sacia na morte do abusador. Quando é que a extinção do outro, sem contemplações, se torna tão imperiosa, que dela somos capazes, sem pensar no horror e nas consequências devastadoras que levamos à vida de outros e trazemos à nossa própria vida.
E mais, que mecanismos externos e internos nos podem defender disto, quer sejamos potenciais vítimas ou criminosos…conhecemo-nos suficientemente bem para saber que seremos incapazes de passar a linha? E os outros, os que amamos, os que vivem connosco, ou aqueles com quem nos cruzamos no dia-a-dia, estarão longe ou próximo do seu limbo?
Neste momento, em que nos esperam momentos difíceis das nossas vidas, onde as necessidades que nos foram progressivamente criadas vão deixar de poder ser satisfeitas, e em que eventualmente as mais básicas também não, haverão muitos mais seres capazes de atravessar a fronteira…
Tenho passado toda a minha vida cativada por isto… qual é a chave, o detonador, que despoleta o instante em que um pessoa se transforma em besta: quando é que o ciúme se torna tão insuportável que só a morte acalma, quando é que a cobiça por um palmo de terra assume um perfil mortal, que nível de cansaço e desespero exige a necessidade absoluta de calar para sempre o outro, quando é que uma ofensa necessita de ser cobrada com sangue, a partir de que momento o abuso só se sacia na morte do abusador. Quando é que a extinção do outro, sem contemplações, se torna tão imperiosa, que dela somos capazes, sem pensar no horror e nas consequências devastadoras que levamos à vida de outros e trazemos à nossa própria vida.
E mais, que mecanismos externos e internos nos podem defender disto, quer sejamos potenciais vítimas ou criminosos…conhecemo-nos suficientemente bem para saber que seremos incapazes de passar a linha? E os outros, os que amamos, os que vivem connosco, ou aqueles com quem nos cruzamos no dia-a-dia, estarão longe ou próximo do seu limbo?
Neste momento, em que nos esperam momentos difíceis das nossas vidas, onde as necessidades que nos foram progressivamente criadas vão deixar de poder ser satisfeitas, e em que eventualmente as mais básicas também não, haverão muitos mais seres capazes de atravessar a fronteira…
o crime tornar-se-á banal?
1 comentário:
Faço-me as mesmas perguntas desde há muito tempo, porque essa linha limite é assustadora! O que nos permite não cruzá-la? E que circunstâncias nos empurram para o outro lado? Não vale a pena julgar os outros severamente, porque quem sabe não tomaremos o seu lugar uma vez qualquer no futuro?
Tenho de achar um bom livro sobre isto...
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