14 de novembro de 2011

14.11.1921

Embalou-me muitos choros, protegia-me dos ralhetes da mãe, punha-me mercúrio nos joelhos depois dos trambolhões, catava com paciência os piolhos dos meus longos cabelos e ensinou-me o pouco que eu quis aprender de artes domésticas.
Fazia os melhores bifes de vaca do planeta, e os únicos rins de porco que alguma vez comi (porque nenhuns se lhes comparam), embora não tivesse qualquer jeito ou imaginação para cozinhar: nos almoços de domingos invariavelmente comia-se cozido à portuguesa, dobrada ou carne assada.
Não foi perfeita, tinha as suas manias e teimosias (que aliás a família reconhece em mim), mas era o pilar da família: a profunda protectora do seu filho mais novo (tinha um amor desmedido por ele, era a sua paixão!) e o suporte logístico das suas filhas. Criou-nos a todos com a dedicação suposta a uma mulher da sua época, cumprido as obrigações de uma dona de casa.
Nós duas, tivemos uma relação profunda e difícil, sinto que sempre achou que roubei ao seu querido filho (8 anos mais velho que eu) o amor do seu pai, meu precoce avô, com quem tive uma relação muito especial. Depois de anos de psicanálise percebi que algumas das minhas dores mais profundas tinham sido alimentadas por ela. Perdoei-lhe há muito.
Hoje, se tivesse sobrevivido ao cancro no pulmão, completava 90 anos.
Confesso que tenho muitas saudades daquela vaidosa senhora de metro e meio que sustinha as nossas vidas… sobretudo lamento que não tenha conhecido o meu filho.

Beijos avó.

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