30 de janeiro de 2010

Vida doméstica.

Ao fim de um ano é dia de mudar a parede da sala que estava rachada.

Tenho a casa gelada. Mas vou ficar com a alma lavada.

Vou voltar a ver o céu sem umas riscas pelo meio.

28 de janeiro de 2010

Ódios


Pronto, assumo.
Sou uma gaja de grandes afectos: ora amo indubitavelmente uns, para sempre, ora alimento ódios de estimação até à eternidade.
E hoje estou em dia de ódios, e fico a sonhar em pertencer à Máfia ou à ETA e mandar gastar umas balas e uns explosivos nuns seres e coisas que me incomodam.

Então aqui está uma pequena lista de ódios (tenho que aliviar o fígado e os blogs também servem para isso),- mas atenção, se lhes acontecer alguma coisa a culpa não é minha!- :
-odeio os meus vizinhos, a sua cadela uivadora, as suas festas, as suas discussões e os seus filhos adolescentes e a sua aparelhagem sonora;
-odeio um certo convento gelado nas portas da cidade (a sua localização afecta a minha saúde mental, por isso bomba ou um qualquer desastre natural: incêndios, tornados, sismos!);
- odeio o cheiro a lareiras que invade o bairro, mesmo nas noites em que estão 15ºC, o que me obriga a lavar não sei quantas vezes a mesma roupa se não chega ninguém a casa antes de anoitecer para a salvar do estendal.
-odeio os “sapos” da Emel, em particular, e a Emel no geral. Que raio, comprei casa no centro de Lisboa, contribuo para manter a cidade viva, paguei muito mais por menos área e supostamente para ter mais qualidade de vida, por isso devia poder estacionar na minha cidade. Que paguem estacionamento aqueles que optaram por viver fora e entopem a cidade diariamente;
-odeio as seniores reformadas que vão para o cabeleireiro, justamente, ao sábado de manhã quando tem todos os dias da semana livres. Odeio, ainda mais, as que resolvem ir ao supermercado depois do cabeleireiro;
-odeio aqueles rapazes e raparigas que distribuem jornais grátis e insistem estupidamente (e com risco da sua vida, naquilo que me diz respeito) em manter-se a distribuir os seus papeluchos na faixa de rodagem com o semáforo já verde;
-odeio os pais dos colegas do meu filho que têm a suprema lata de parar o carro no meio da rua (de uma única faixa) para irem levantar os seus pequenotes, que não podem ser boa gente com tão maus exemplos na família (por isso, o puto muda para o ano, para um colégio com parque de estacionamento, antes que eu um dia alugue uma chaimite e passe uns quantos audis e bms a ferro!)
- mas o rei dos meus ódios continua a ser o senhor presidente da câmara, a quem junto os arquitectos do projecto do terreiro do paço. A ideia de colocar passadeira de peões de dez em dez metros, arrematada com uma muito muito larga frente ao cais das colunas, sem semáforos, é simplesmente brilhante! inteligente! maravilhosa! Agora paramos de segundo a segundo ou atropelamos alguém (o raio dos peões não são capazes de se organizar em grupinhos ordeiros!). Claro que se fosse o próprio do presidente a atravessar à minha frente o meu carro teria certamente um problema de travões. Também foi muito simpático colocar empedrado na faixa de rodagem, dá imenso jeito, sobretudo em dias de chuva. (as obras do terreiro do paço só mesmo sismo seguida de marmoto, não encontro outra solução!!!)
-já agora, odeio chuva!

Huuuhfffff! Odiar cansa!

27 de janeiro de 2010

Morre lentamente....

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere O "preto no branco"
e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da Chuva incessante,
desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!

Pablo Neruda

Obrigado A.L. pela mensagem de correio electrónico com este poema.

23 de janeiro de 2010

Quem me leva os meus fantasmas....

Obrigada M. Acho que fica bem depois do post anterior.

21 de janeiro de 2010

A Sindroma da Alienação Parental

A justiça e a comunicação social ofereceram-nos nos últimos dias diferentes abordagens da Sindroma de Alienação Parental, que a OMS não reconhece e a DSMIV não identifica.
Traduzindo por miúdos, porque é efectivamente um assunto de miúdos, após o divorcio, um dos pais, em regra a mãe, porque geralmente é esta a cuidadora, (e ainda que não fosse, desde Freud a culpa de qualquer trauma é invariavelmente da mãe), faz supostamente a cabeça dos miúdos para não quererem ver ou estar com o pai. E face a isto, pronunciam-se todos: juízes, juristas, advogados, pedopsiquiatras, psicólogos, jornalistas. Falam da suposta Síndroma, questionam a legislação, esgrimem argumentos sobre o direito à parentalidade, o equilíbrio dos pais cuidadores, a saúde mental das crianças, e tudo o que mais se queira….

Este assunto incomoda-me, e a reportagem da RTP sobre a Maria, que acabou institucionalizada, e só pode ver a mãe uma hora por semana, por sofrer do suposto Síndroma arrepia-me até à medula e fez-me perder uma noite de sono.

Todos sabemos que o mundo não é perfeito, todos sabemos que o divórcio pode ser o fim ou o princípio de uma guerra de adultos onde as crianças são facilmente manipuladas, todos conhecemos o mal que por vezes se faz em nome de um suposto bem, todos em algum momento da nossa vida já alcançamos objectivos sem estar muito atentos aos meios que utilizamos (ainda que inconscientemente), por tudo isto, e muito mais, tenho dificuldade em aceitar esta Sindroma como argumento para o que quer que seja, muito menos para afastar uma criança de uma mãe, boa cuidadora e afectuosa, ainda que com o coração cheio de ódio pelo outro progenitor do seu filho. Pergunto-me também que pais cheios de ódio são estes, que recorrem a tribunal e preferem ver os seus filhos institucionalizados a deixa-los viver com as suas mães. Sei que o argumento é discutível mas apetece-me avocar a história do Rei Salomão quando duas mulheres afirmavam ser mães da mesma criança, e o rei ameaça mandar cortar a criança ao meio, decidindo por fim dar a guarda da criança àquela mulher que cedeu em entregar a criança à outra mulher para que a criança não fosse morta. Parece-me que um bom pai, deve saber recuar temporariamente, desistir se necessário, pelo bem-estar do seu filho. Talvez o filho um dia possa reatar a relação e compreender este “abandono”, mas certamente nunca lhe perdoará o tempo de institucionalização.


Nota: A autora do post faz aqui uma declaração de interesses: há 40 anos foi supostamente vítima da “ síndroma de alienação parental”. Uma separação na década de 60 era uma guerra sem fim, que envolvia ódios colossais, aliás essa guerra só acabou com a formalização do divórcio dos pais em 76, quase 10 anos depois. Viveu sempre com a sua mãe e a sua família materna, adoecia todos os domingos da visita, e o seu pai, quando ela tinha 3 ou 4 anos, desistiu dos encontros domingueiros a troco da poupança da pensão de alimentos. O juiz quando ela tinha 9 anos perguntou-lhe a sua opinião sobre o assunto. [Ela nunca se esqueceu daquele juiz barbudo que a ouviu atentamente e compreendeu a sua opção- devia ser comunista!-]. Cresceu saudável e mais ou menos feliz, como toda a gente, e não lhe aconteceu nada de mal, antes pelo contrário.
Se tivesse sido institucionalizada a sua história seria certamente outra…

15 de janeiro de 2010

3.


Se o tempo continua assim ... HIBERNO!

2.


há dias em que ficar na cama devia ser uma prioridade!

1.


há dias em que trabalhar devia ser proibido!

11 de janeiro de 2010

Mal d'Inveja

A inveja é feia, eu sei! Mas a frente fria que assola a Europa não podia deslocar-se um bocadinho mais para cá... Assim, como assim, está um frio de rachar ...
Não podia nevar aqui na cidade?
As nossa estradas não podiam ficar ainda mais intransitáveis, os serviços não podiam ser reduzidos ao mínimo, os colégios fecharem...Para podermos todos ficar em casa num fim-de-semana enorme a arrastarmo-nos entre a cama e o sofá, entre livros e jornais, entre jogos, filmes e pipocas, embrulhados nas mantas em frente à lareira.

4 de janeiro de 2010

Regresso à rotina

“Depois da alegria e do descanso chega este mês, um Janeiro vestido com aquelas cores de segunda-feira que entra, sem pedir licença, num cenário de normalidade. Com ele, entram também a grandeza da imaginação e do sonho com a pequenez dos gestos de cada dia. Pode acontecer que troquem entre si palavras de desconsolo e de recomeço.

A grandeza para viver este tempo de normalidade e de maior rotina, está precisamente em descer ao cenário concreto dos nossos dias e recomeçar a partir do que somos, mesmo que haja esforço e hesitação.

Portanto, estes primeiros dias de ano novo encarregar-se-ão de lembrar-nos que tudo se joga numa vida diária, de um dia como o de hoje que parece tornar-se repetitivo. Dias que podem começar e terminar da mesma maneira.”



Nuno Branco
01.01.2010

Ambição 2010