26 de novembro de 2008

Fora de época

Este ano o Natal começou em Setembro, ainda eu andava de t-shirt e a criança usava panamá para o sol da tarde no jardim, quando montavam já umas pobres e mirradinhas iluminações nas ruas do meu bairro.

Em Outubro, com a chegada da manga comprida e das castanhas assadas, as lojas perderam os medos e a vergonha e encheram as montras de propostas de presentes e de promoções pré-natalícias, as pastelarias atulharam-se de bolo-rei e filhós e os centros comerciais começaram logo, logo, a engalanar-se com as suas pujantes decorações e a inundar-nos os ouvidos com roufenhas e gastas músicas natalícias.

Os catálogos das lojas de brinquedos chegaram todos à caixa do correio ainda Novembro começava, os canais de televisão para miúdos (desculpem mas não sei como vão as coisas nos generalistas porque lá em casa não se vêem) ocupam, neste momento, mais tempo com publicidade a brinquedos aberrantes, como bonecas que têm febre, cães que fazem xixi e super-heróis que cantam e dançam modinhas antigas, mais uns tontos assustadores do werstling e uns carros que se transforma em monstros (ou o seu contrário, confesso que não consigo perceber), do que com desenhos animados. Até a árvore da cidade, este ano a árvore ZON, já acendeu as suas luzes, com pompa, circunstância e muito fogo de artifício (o que pôs os cães da vizinhança a ladra por uma boa meia hora) a 22 de Novembro.

Esta precipitação natalícia incomoda-me, enerva-me, irrita-me, altera o tempo das coisas, inverte a ordem e os papéis, cria ansiedades desnecessárias, traz a sensação de que já estamos atrasados para a festa, quando a festa ainda demora.
Sobretudo, traz consigo memórias do que não gosto: prolonga o frio, os dias pequenos, lembra que chega o Inverno, a gripe, a chuva e a tosse, anuncia que o Verão, a praia, as férias e os dias sem fim, vão demorar a chegar. Recuso-me a acompanhar esta onda de Natal fora de época, que lembra a fruta importada, muito bonita mas sensaborona.

Para mim, o Natal só começa no dia um de Dezembro com a nossa árvore armada, a muitas mãos, ao pé janela da sala e arrasta-se lentamente até seis de Janeiro do próximo ano quando já existe o alento do tudo de bom que um novo ano pode trazer. Pelo meio acontecerão, certamente, irritações e zangas, compras de última hora, convidados surpresa, festas, abraços e gargalhadas, presentes e doces, e claro, as familiares, eternas e imprescindíveis discussões sobre política em torno da mesa da sala de jantar, que fica posta dias a fio.

Este é o Natal de que me lembro desde sempre, o Natal do fim de Dezembro, o que demora a chegar…e é este o que quero preservar, na memória e na vida.

21 de novembro de 2008


- Senhora séria e bem apessoada aceita casar com banqueiro, para divorcio rápido afim de ficar com todos os bens em seu nome após o mesmo. Condições a combinar.


- Jovem universitária oferece-se para ser adoptada por Autarcas (preferência), gestores de empresas municipais, gestores de empresas públicas ou mesmo privadas, permitindo ser primeira (ou única) titular de contas bancárias em offshores. Condições a combinar.



- Mulher despachada aceita engolir sapos e elefantes em entrevistas e conferências de imprensa de Ministras burras e teimosas que têm de dar o dito por não dito devido ao período legislativo que se aproxima. Condições a combinar.


19 de novembro de 2008

18 de novembro de 2008

18.11


Hoje o dia é meu... todinho meu!

16 de novembro de 2008

A escola

Ontem à noite (depois de um seminário na faculdade), quando regressava a casa, com a cabeça a latejar, o peso do mundo às costas, e o peito apertado com a pergunta “porque é que me meti nisto?”, ouvi uma vozinha vinda do quarto dele: “Mãe, és tu? Já chegaste da escola primária?”.

14 de novembro de 2008

Emissão Especial

Ontem, no regresso a casa, como de costume os meus companheiros radiofónicos eram a Teresa e o Aurélio do RCP.
Ontem a emissão foi diferente, estiveram sempre vendados em estúdio a experimentar a sensação da cegueira, porque a emissão era dedicada à estreia do filme realizado pelo Fernando Meirelles sobre o "Ensaio sobre a Cegueira" . No meio de todo aquele semi-caos condicionado pela alteração temporária dos seus referencias sensoriais tiveram uma fascinante surpresa . Tão surpreendente que nos emocionou a todos, a eles no estúdio e a mim no carro. O José Saramago é brilhante, lúcida e afectivamente inteligente.
Há lágrimas e fungadelas que sabem bem.
Obrigada.

12 de novembro de 2008

Maneis, os melhores amigos

Não, a minha boca não se abriu de espanto ao ver o noticiário. Não, não fiquei arrepiada por mais que o L. clamasse contra as amigalhices dos gajos do Governo. Digamos que… até achei normal. Então o Pinho da Economia escolhe o seu grande amigo Sebastião (que até o substitui em grandes negócios para os quais tem uma procuração), para a Autoridade da Concorrência, e depois?
Pensem bem, se fossem, ainda que por momentos, Ministros ou assim, não escolheriam para os cargos importantes os vossos amigos mais queridos, sendo que ainda por cima poderiam ter estudado na universidade do futuro presidente dos EUA(?) (Que raio de argumento este Ministro sem argumentos foi utilizar? Ou homem é apalermado ou julga que somos parvos? Isto é que me irritou! A parvoíce irrita-me sempre! Muito mais que a corrupção, que essa acredito que é um traço genético nacional!)

Pois eu, se fora Primeira-Ministra (sim, que não consigo pensar menos que isso...) o mais certo seria escolher aqueles que conheço e aqueles em quem confio para encabeçar os meus Ministérios e eles certamente fariam o mesmo com as suas Secretarias de Estado, e todos assim, segundo o mesmo princípio das amizades e dos conhecimentos, por aí abaixo.

Ora bem, a minha querida comadre, de caras, ficava com a Saúde, com aquele sorriso e aquela capacidade de seduzir médicos e pessoal de enfermagem a coisa ficava logo resolvida, ao S. com quem partilho o gabinete e me salva das aflições do Excel, e dos orçamentos e dos apuramentos estatísticos dava a Economia e/ou Finanças, ou as duas, sei lá, que esses assuntos nunca me interessam, a F. a jurista cá da sala, aplicada, diligente e competente, ainda que use termos como controvertido, em vez de um simples controverso, ficava com a Justiça, a minha amiga C. ia direitinha para a Educação, tantos anos de experiência no ensino especial haviam de por aquele Ministério a funcionar, para a reabilitação, que deixaria de ser uma Secretaria de Estado e passava a Ministério só podia ir minha amiga MH (e este seria certamente o Ministério mais divertido e alucinado do meu Governo); o K. ficava com o Desporto e assim podia erradicar os árbitros que insulta e vingar-se de todos os dirigentes desportivos que lhe escolheram sempre mal os treinadores da sua equipa de eleição; o meu querido L. (pai do meu filho) ficava com a tutela da comunicação social, o que talvez fosse bom porque havia de proibir que dissessem mal do meu Governo, e a lista continuaria entre amigos e conhecidos…

Aliás, ao deitar o puto, resolvi testar a minha teoria dos genes para convidar amigalhaços para o Governo e perguntei-lhe “ se mandasses num país, se fosses o rei de um reino muito distante, onde tinha muitas coisas para fazer, a quem é que pedias ajuda?” a resposta foi pronta: “à mãe, ao pai, à avó e ao Action Man!”. Boa ideia, não há como consultar os próximos nesta coisa de constituir Governos…pois claro, no meu Governo faltava o Action Man, que devia ir direitinho para Ministro da Administração Interna!

E pronto! Governo formado, amigos e conhecidos satisfeitos. E a ética?
Ora a ética… a ética que fosse dar uma volta… talvez com a estética…

A lista

A lista para dia 18 continua a mesma de 2007.

10 de novembro de 2008

Amuo

Hoje não estou para conversas!
Ele é mais arrumações, aqui! E nos (im)perfeitos amores!

6 de novembro de 2008

Os mal ditos


Ele há coisas que nos assolam o pensamento que não devem ser verbalizadas. Aprendemos este facto no convívio social e desde a mais tenra idade.
Quantas vezes não se levantou um sobrolho ameaçador, não levámos um tabefe ou um empurrão, ou ouvimos um pigarrear mais veemente por dizermos de forma inconveniente a nossa abrupta, mas verdadeira, opinião...·
Pois é, há coisas que são para pensar e calar, ou pelo menos para processar antes que nos saiam de chofre pela boca fora, sobretudo se o nosso discurso tem visibilidade pública e mais ainda, se temos ambições politicas. Foi o que aconteceu com a Dra. Manuela Ferreira Leite quando respondeu de forma convicta mas infeliz à pergunta (a propósito do investimento que Portugal pretende fazer em obras públicas):

- As obras públicas ajudarão, pelo menos, ao factor desemprego?
- Ao desemprego de Cabo Verde, desemprego da Ucrânia, isso ajudam. Ao desemprego de Portugal, duvido.

O raciocino de per si não é de todo errado, (todos sabemos que as obras públicas são um dos principais sorvedouros de mão-de-obra imigrante, quantas vezes ilegal, a trabalhar em regime de semi-escravatura), mas a forma como foi proferida, sem a clarificação desejada tornou-a agressiva, xenófoba e discriminatória e um alvo fácil para a chacota nacional e parlamentar, permitindo até ao senhor primeiro ministro, afirmar heroicamente no parlamento que o seu partido não distingue portugueses de primeira e de segunda (?).
Eu, que reconheço em mim uma formação humanista, tenho que não teria respondido assim, mas que não deixaria de fazer o mesmo pensamento analítico.

Tal como fiz, e afligi alguns colegas de trabalho, quando foram apresentados os abonos de família pré-natal como forma de estimular o aumento das taxas de natalidade, pois apoiar-se a natalidade dos mais pobres pareceu-me um erro brutal, ora se se reconhece sociologicamente a perpetuação geracional de subculturas de pobreza, não me pareceu sequer ético que fosse nesse grupo que necessita antes de se auto-promover e romper ciclos de exclusão que os investimento à natalidade devessem ser realizados, quando existiriam outros grupos disponíveis, mais estruturados e predispostos a aumentar a sua natalidade se o Estado lhes oferecesse melhores condições de suporte social e fiscal.·
Mas percebo que política e eleitoralmente dá jeito que assim seja.
Apoiar os pobres fica sempre bem.
Dizer alguma coisa considerada socialmente incorrecta, ainda que verdadeira, fica sempre mal.
Por isso, toca a aprender lição.

5 de novembro de 2008

OBAMA 08

O que é que pensou este homem aquando do anúncio da vitória?
Terá gritado interiormente “sim consegui!”, ou terá rezado ao seu Deus para que nada daquilo fosse verdade. Terá firmemente acreditado no seu discurso de vitória ou teve consciência exacta das promessas impossíveis de cumprir. Acreditou que venceu porque tem efectivamente as qualidades que se exigem, ou apenas pelo demérito dos seus opositores. Terá ficado inebriado com o poder que se avizinha ou terá sentido uma cólica de pavor pela dimensão exacta dessa responsabilidade.

Será que reflectiu na sua negritude, pensou nas suas raízes ancestrais, sentiu a escravatura vingada, ouviu interiormente os gritos de júbilo do povo massacrado do país de onde o seu pai emigrou, ou concentrou-se apenas no nó da gravata e sentiu o sabor de ser o homem do poder…

Terá pensado primeiro em todas as mulheres que amou, nas suas filhas, ou na sua cabeça delineava-se só a escolha dos membros do seu gabinete…

Que homem é este? Que pessoa é esta?
Gostava tanto de saber quais foram os seus primeiros pensamentos…
Acredito que são esses que vão fazer toda a diferença (prometida)!

3 de novembro de 2008

Ao domingo


Ao domingo namoramos muito, a dois, a três.
São as manhãs na cama, as cócegas e as gargalhadas, as bicicletas, ou o mar, ou os restaurantes à beira-rio. Ao domingo estamos mais tempo uns com os outros. Ao domingo conversamos mais, estamos mais disponíveis e atentos. Ao domingo somos mais felizes.

Ontem, domingo, no almoço a ver o rio, o nosso rapazinho de 4 anos, quando se falava do Natal e enquando tinha o olhar perdido no horizonte, pediu: “Pai, este Natal podes levar-me a ver o Kilimanjaro?” “o Kilimanjaro? ‘” perguntei, “ Sim mãe, aquela montanha mais alta de África, que foi um vulcão e que tem sempre neve no cimo, e eu adoro vulcões e montanhas e neve…”, respondeu impaciente, “aãh….”disse aparvalhada com tanto conhecimento enciclopédico, e fique com a sensação que ele e o pai acordaram ir daqui a uns anos…

Ontem, domingo, ao deitar, depois de lhe contar as estórias do costume, dei-lhe um enorme beijo e abraço de boa noite, e ao sair do quarto ouvi: “mãe, és tão linda, tão linda, como a acácia mais alta da savana”, respondi que também gostava muito dele e decidi não explorar mais a conversa.


Fui para a cama a pensar que se o puto fosse mais velho era melhor ir saber das suas companhias e se não andavam a fumar nada ilegal, mas aos 4..., ou este miúdo tem o coração de um poeta africano ou o antibiótico para a otite tem alguns efeitos adversos estranhos…