6 de novembro de 2008

Os mal ditos


Ele há coisas que nos assolam o pensamento que não devem ser verbalizadas. Aprendemos este facto no convívio social e desde a mais tenra idade.
Quantas vezes não se levantou um sobrolho ameaçador, não levámos um tabefe ou um empurrão, ou ouvimos um pigarrear mais veemente por dizermos de forma inconveniente a nossa abrupta, mas verdadeira, opinião...·
Pois é, há coisas que são para pensar e calar, ou pelo menos para processar antes que nos saiam de chofre pela boca fora, sobretudo se o nosso discurso tem visibilidade pública e mais ainda, se temos ambições politicas. Foi o que aconteceu com a Dra. Manuela Ferreira Leite quando respondeu de forma convicta mas infeliz à pergunta (a propósito do investimento que Portugal pretende fazer em obras públicas):

- As obras públicas ajudarão, pelo menos, ao factor desemprego?
- Ao desemprego de Cabo Verde, desemprego da Ucrânia, isso ajudam. Ao desemprego de Portugal, duvido.

O raciocino de per si não é de todo errado, (todos sabemos que as obras públicas são um dos principais sorvedouros de mão-de-obra imigrante, quantas vezes ilegal, a trabalhar em regime de semi-escravatura), mas a forma como foi proferida, sem a clarificação desejada tornou-a agressiva, xenófoba e discriminatória e um alvo fácil para a chacota nacional e parlamentar, permitindo até ao senhor primeiro ministro, afirmar heroicamente no parlamento que o seu partido não distingue portugueses de primeira e de segunda (?).
Eu, que reconheço em mim uma formação humanista, tenho que não teria respondido assim, mas que não deixaria de fazer o mesmo pensamento analítico.

Tal como fiz, e afligi alguns colegas de trabalho, quando foram apresentados os abonos de família pré-natal como forma de estimular o aumento das taxas de natalidade, pois apoiar-se a natalidade dos mais pobres pareceu-me um erro brutal, ora se se reconhece sociologicamente a perpetuação geracional de subculturas de pobreza, não me pareceu sequer ético que fosse nesse grupo que necessita antes de se auto-promover e romper ciclos de exclusão que os investimento à natalidade devessem ser realizados, quando existiriam outros grupos disponíveis, mais estruturados e predispostos a aumentar a sua natalidade se o Estado lhes oferecesse melhores condições de suporte social e fiscal.·
Mas percebo que política e eleitoralmente dá jeito que assim seja.
Apoiar os pobres fica sempre bem.
Dizer alguma coisa considerada socialmente incorrecta, ainda que verdadeira, fica sempre mal.
Por isso, toca a aprender lição.

5 comentários:

Missanguita disse...

Pois... infelizmente todos perdemos aquela oportunidade que não deviamos perder... a de ficar calados... por outro lado lá dizem os "the gift": se por falar falei, pensei que se falasse era fácil de entender..

Brisa disse...

Parece-me é que estamos a ficar demasiado habituados a ouvir os nossos políticos a plantar canteiros e canteiros de flores nos seus discursos e respostas. Foi uma resposta franca e realista, típica de um economista com consciência do que é a Economia, doa o que doer. Fingir beleza onde não a há e fazer de conta que se é bonzinho, na fase que atravessamos, é demagogia perfeitamente dispensável. Tenho saudades de ouvir conversas claras, concisas e objectivas.

leitanita disse...

Pode ter ficado mal... mas que a senhora tem tomates não tenhamos duvidas! E qualquer "santo" perde a paciência quando os jornalistas provocam ao nível da "exaustão" como o fizeram com ela!
Chega de falinhas mansas isto está preto... é preciso colocar a verdade nua e crua, à frente dos olhos de todos os que a não querem ver!

leitanita disse...

Esta nova visita é só mesmo para confirmar que a malta em geral e até os mais "difernciados" ficaram muito mal impressionados ou até zangados com a Manuela! Ainda ontem estive numa acesa discussão sobre o assunto. bjs :)

Xanuca B disse...

Pois.. eu confesso que não esperava aqui comentários tão consensuais...
Aliás estava à espera de alguma discussão...