27 de abril de 2012

Esculturas...

Enquanto jantamos a RTP apresenta o seu noticiário.
Surge uma peça sobre o facto de Joana Vasconcelos ir expor no Palácio de Versalhes.
Eu e o pai começamos a falar-lhe do quanto já fomos felizes em Versalhes, da beleza do palácio, dos passeios de bicicleta nos jardins, bla, bla, bla... ele interrompe e afirma "desculpem sob pena de parecer ignorante mas a Joana Vasconcelos não é aquela escultora que fez a árvore de garrafas que está na porta do Museu Berardo e aquele sapato de tachos que está no Casino de Troia e mais aquele candeeiro de tampões, que está não sei onde!" eu digo-lhe que sim... e o meu coração bate mais depressa... acho que estamos a ser uns bons educadores...ele é um rapazinho de 8 anos interessado pelo mundo.
E só para que conste ele afirma que a Joana V. é a sua escultora favorita, eu contraponho que o meu é Cutileiro e mostro-lhe as "suas meninas" na net.
Ele, mesmo assim, continua a preferir a Joana e fica fascinado com os cães cobertos de crochet.

25 de abril de 2012

16 de abril de 2012

Fim-de-semana sem cozinheiro é fim-de-semana de restaurantes.
Mas a crise, a crise, senhores a crise, que me levou os subsídios e parte do salário mensal obriga-me ao esforço da contenção.
E então vou para a cozinha: concentro-me, respiro fundo, mas tremo.
Vou fazer um básico, nada mais simples que um salmão grelhado com legumes cozidos. Não saio da cozinha, olho ansiosamente para os tachos, queimo-me no raio da cena de cozer os legumes ao vapor, espirra e tacho para o fogão, ponho o salmão a grelhar, a casa é invadida por fumo, os lombos de salmão rapidamente se tornam tostas ainda que por dentro se mantenham cruas que nem sushi, desespero e asfixio. Corro a fechar as portas dos quartos e a abrir a janela da cozinha. O puto entra a perguntar o que está a queimar. Olha desconsolado para o salmão, que tanto adora, encolhe os ombros e diz: porque é que não fomos jantar fora mãe, tu já sabes que não és capaz?

Vai tudo para o lixo, as batatas estão em papa, as cenouras rijas os brócolos ainda estão crus dentro daquele cestinho do vapor, o salmão estorricado.
Caiem-me grossa lágrimas cara abaixo.
Porque é que não consigo fazer, porquê, porquê? Toda a gente consegue! Eu tento, eu tento, eu gostava de gostar, eu gostava de saber… mas não sei. Qualquer coisa que experimento me sai mal ….

Vestimos os casacos e fomos jantar ao restaurante.

Depois de o adormecer vou navegar um bocadinho na net, no facebook tenho comentários sobre uma receita estrambólica que num dia destes, no trabalho, comentei que por vezes fazia com algum sucesso.
Duas colegas experimentaram-na e parece que gostaram. Por segundos senti-me uma maga da culinária com direito a receita própria e tudo. Fiquei tão feliz como uma criança em noite de natal.
E tenho cada vez mais vontade de fazer um curso de culinária, daqueles básicos, básicos. Pena que sejam tão caros e que a crise se tenha instalado no meu rendimento anual… que pena …

13 de abril de 2012

Sábias Palavras

«Nação valente e imortal»


Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos.

Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade. O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles. Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão. O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito. Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver:

- Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro

- Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima

- Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade.

As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos.

Vale e Azevedo para os Jerónimos, já!

Loureiro para o Panteão já!

Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já!

Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha.

Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram.

Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito. Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis. Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair. Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar. Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho. Agradeçam a Linha Branca. Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar. Abaixo o Bem-Estar.

Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval.

Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos. Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender, o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.

Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.


António Lobo Antunes
in Revista Visão

05.04.2012

10 de abril de 2012

Chegar

 Regressar a casa é o melhor de tudo! (excepto a parte de desfazer as malas e arrumar as 50 peças de roupa que não chegaram a sair da mala :( )
Como amo o meu colchão, a minha almofada o meu edredom e o meu sofá. O meu querido e adorado sofá!
Deuses, sou tão feliz quando regresso!

Nunca percebo porque parto!

5 de abril de 2012

Sejam felizes!

Partir


Odeio esta etapa da viagem!
Saio sempre a perder!