28 de fevereiro de 2008

Aniversário

Um ano depois, 151 post depois, continuo a gostar de estar aqui. Sinto-me bem neste espaço, é aconchegante, acolhedor e é egoisticamente meu. Nestes últimos dias passeei-me pelo blog, revi muitos dos meus post, de alguns já nem me lembrava, outros fizeram-me sorrir ao recordar os humores com que os escrevi, definitivamente não foi um ano fácil. Recordei também os rascunhos nunca “postados” por puro pudor. Engraçada esta percepção, de ter criado um lugar público, uma montra, e depois não ser capaz de me mostrar inteira…Talvez com o tempo este blog seja cada vez mais (m)eu. Ainda assim, foi bom, muito bom. Escrever alivia-me a alma, publicar o que escrevo dá-me prazer e os vossos comentários souberam a abraços. Por isso, vou continuar a escrever aqui e peço-vos que entrem sempre que quiserem e opinem sempre que vos apetecer. Obrigada por estarem aí.


Obrigada MH por me ter iniciado neste mundo que se entranha na pele.

Ofereci-me (vos) de presente o intimista imperfeitosamores.blogspot.com (mais um filho para alimentar com palavras, por isso aceitam-se ajudas, aqui fica o desafio: escrevam uns textos sobre afectos e encaminhem para imperfeitosamores@gmail.com).

26 de fevereiro de 2008

Humores





Ele há dias difíceis. Ou melhor, manhãs impossíveis. Às 7.40h já a cadela me arrastava e esmifrava contra os muros da vizinhança na sua implicância matinal com outra fêmea canina.15 minutos depois, o beijo matinal do puto foi acompanhado do “mãe acho que fiz xixi na cama”, e lá veio o stress estonteante de mais um duche e a roupa na maquina e a janela aberta e a fúria e a condução alucinante pela cidade para ainda picar ás 8.30h (confesso já aqui, que passei dois vermelhos e ignorei várias velhinhas em passadeiras, porque atrasada estava eu). Pico o cartão no limite, respiro fundo e mudo de humor com a tertúlia do pequeno-almoço. Sento-me na secretaria, entra um chefe a pedir um documento estratégico exactamente inverso ao que preparámos a semana passada (?). Volto a ficar furiosa. Começo o documento, não sei o que dizer, é necessário virar tudo ao contrário, esta gente não sabe o que quer?. Faço uma pausa em busca de inspiração e percorro aos jornais e fico outra vez bem disposta com as grandes notícias do dia:

- Homem espreitou assalto e foi alvejado, balas passaram de raspão e provocaram ferimentos ligeiros. DN on-line.(?)

- Um operário fabril de 48 anos foi detido anteontem à tarde pela GNR da Gafanha da Nazaré, Ílhavo, depois de ter andado a fazer rali entre as campas do cemitério local, com uma taxa de alcoolemia de 3,33 gr/l. CM on-line (?)

Gosto de viver num país assim, entre o amalucado e o deprimido, mas onde estão todos afinadinhos pela mesma bitola, o vizinho abelhudo e o operário condutor de ralis espelham o grau de desnorte pueril dos que querem o documento estratégico virado ao contrário.

Vamos lá voltar ao trabalho, antes que alguém mude de ideias.

24 de fevereiro de 2008

Bravo Monsieur Aznavour!

Rein à dire, tout à dire, sur ce magnifique spectacle !


Forte, intenso, emocional. 160 minutos de pura emoção. Lamento, apenas, o final sem "encore" e todas as músicas soberbas que não dancei.

Nota 1: Porque é que somos assim contidos e vemos os espectáculos sentadinhos e quietinhos. Eu ali na coxia, o pé a saltar, o corpo a pedir e o imenso espaço vazio ao meu lado …
Ainda te convidei mas tu recusas-te. Seríamos os únicos?
Porque não dançar e partilhar toda a vitalidade e entrega do cantor?

Nota 2: Obrigada H pelos convites na Plateia VIP. Um luxo.
Merci Bien.

20 de fevereiro de 2008

A entrevista


Tinha prometido a mim mesma que não escreveria nada sobre o assunto, porque não vi "a entrevista". Queria ver, mas não consegui.

Acontece que, nos últimos dois dias, li e ouvi dezenas de comentários sobre a dita, uns pró outros contra, aliás, mais contra que pró, mas nenhuma abordou a minha grande angústia e assim não resisto a perguntar: ninguém reparou no que eu vi e me impediu de ver a entrevista? O homem estava demasiado maquilhado, a tez estava demasiado escura o que acentuava os vincos do rosto, os lábios brilhavam de gloss. Fiquei siderada sem conseguir ouvir uma palavra do discurso, certamente muito bem treinado, fixada naquela matrafona mal amanhada do Carnaval de Torres. Por pudor, mudei de canal. Tive pena daquele homem, que por sinal está muito envelhecido.

O caso merecia uma sindicância à SIC, certamente ocorreu um conluio das forças de bloqueio, dos arruaceiros comunistas que organizam manifestações dia sim, dia sim, atrás do primeiro ministro, ou será que simplesmente a maquilhadora estava distraída a pensar como é que pagava as suas contas até ao fim do mês...

Viagens emocionais, amizades incondicionais





Há semanas quis o universo que fizesse uma longa viagem, pela A1, na companhia de uma grande amiga, mesmo irmã, de há mais de 20 anos.

Não paro, desde então, de pensar como estamos estranhamente crescidas. A nossa conversa ininterrupta, mesmo nos seus silêncios, foi longa, tranquila, inquietante, mas nunca banal.

Não falámos de compras, nem de homens, nem de casas, nem de trabalho, nem do quotidiano, nem de vidas alheias… falámos, apenas e só, de nós. Da essência, do que somos verdadeiramente, dos nossos percursos pessoais na procura do ser. Seguimos provavelmente, caminhos diferentes nessa busca (ou talvez não), estamos em etapas distintas, mas temos ambas a mesma vontade de cumprir um caminho de descoberta interior, de reencontro com a nossa energia primordial.

Talvez tenha sido exactamente por isso, que somos tão próximas desde o primeiro instante em que nos cruzámos.

E se ter 40 anos nos permite saber tudo isto, então é muito bom ter 40 anos.

19 de fevereiro de 2008

Ainda o amor?


Um curso para aprender a dizer «Amo-te»

A Associação dos Maridos Devotados do Japão nasceu em 2004 e tem 150 homens de meia-idade como sócios. O principal objectivo é ensinar os maridos japoneses a dizerem «amo-te» às suas mulheres. E também há algumas regras básicas a seguir em casa. O sucesso é garantido.
Esta associação, que diz estar a «colaborar para a paz mundial» e a «conservar o meio ambiente», organiza eventos, para que os maridos possam expressar a sua devoção em público.
«Na época dos samurais, o homem que tinha mais sucesso com as mulheres era o que não dizia «Eu amo-te», conta o fundador da associação, Kiyotaka Yamana. Por isso, «o japonês acha que há mais valor em não dizer «Eu amo-te» do que expressar este sentimento. Só que, na prática, isso não funciona porque as mulheres querem ouvir a frase.
A associação estabeleceu algumas regras que o marido pode facilmente seguir em casa: «contentar a esposa assumindo pelo menos uma das tarefas de casa; expressar gratidão; ouvir as novidades que a mulher tem para contar do seu dia-a-dia; livrar-se do sentimento de vaidade masculina e de excessiva preocupação com as aparências e olhar directamente nos olhos da esposa ao falar com ela.
Além disso, a associação designou a data de 31 de Janeiro como o «Dia da Esposa Amada», altura em que o marido deve «mostrar na prática seu amor e voltar para casa às 8 horas da noite, jantar com a família e dizer à mulher o quanto ele gosta dela por tudo que ela faz para ele próprio e para a família». Dados do Ministério da Saúde do Japão mostram que o índice de divórcios no país aumentou 26,5 por cento em dez anos. O número de divórcios entre pessoas casadas há 20 anos ou mais chegou a 42 mil em 2004, o dobro do registado em 1985. Já o número de divórcios entre pessoas casadas há mais de 30 anos quadruplicou no mesmo período.

in Portugal Diário



Por vezes a minha alma fica tão estupefacta, que não se me oferece dizer nada...

14 de fevereiro de 2008

No dia do amor

Há 4 ano chegaste, de cesariana, à minha vida. E depois, ela deixou de ser só minha.
Amo-te.

11 de fevereiro de 2008

Pais


Será legítimo uma gaja ficar furiosa quando descobre que o gajo, pai do puto, lhe conseguiu vestir a farda do colégio por cima da camisola do pijama?
Será?
É que legitimamente, ou não, EU ESTOU FURIOSA! Como raio não se distingue uma camisola interior de uma camisola de pijama? (sobretudo quando o colégio obriga a que as camisolas interiores sejam brancas lisas?)
Alguém me pode explicar!
Resumindo, o puto levou hoje vestido: uma camisola interior, uma camisola de pijama, uma camisa, um pulôver, um bibe e uma canadiana... Se o puto vem constipado de tanto suar quem é que vai passar as noite a pé e os dias preocupada? A mãe, é claro!!!
Bolas para o gajo e para o puto, que é tão esperto para algumas coisas e não soube avisar o estropício do pai que estava de pijama!Gajos! Gajos!

10 de fevereiro de 2008

Ser mãe

..."Como explicar isto a Roux, que não tem medo de nada e não se preocupa com ninguém? Ser mãe é viver com medo; medo da morte, da doença, da perda, de acidentes, de estranhos, ou do Homem de Preto ou, simplesmente, das pequenas coisas de todos os dias que conseguem magoar imenso: um olhar de impaciência; uma palavra de irritação, a história não contada à hora de deitar, o beijo não dado, o momento terrível em que uma mãe deixa de ser o centro de universo da filha e se converte em mais um satélite na órbita de um sol menos importante."...
Joanne Harris
in Sapatos de Rebuçado
Por vezes, nos livros mais inesperados consegue ler-se o que nos vai na alma...

8 de fevereiro de 2008

Pensar a imigração


A diferença cultural, que se afigura, porventura, uma questão incontornável, tem assumido as mais diversas configurações no domino da teoria social. Desde a ensaio magistral de Simmel sobre a figura do “estranho” ou “estrangeiro” – cuja condição de pertença ao grupo implica tanto um estar fora deste como o confronto como próprio grupo – até às mais recentes “teorias da alteridade”, que, sob a influência do pensamento de Derrida, Foucault e Lévinas, têm animado os debates pós-estruturalistas e pós-modernos, de onde importa talvez, destacar a proposta mais radical de Kristeva que vê na possibilidade ou necessidade de ser um estranho uma condição inerente ao sujeito de vida contemporânea, percorreu-se um longo e sinuoso caminho, que contribuiu, sobretudo, para esclarecer o carácter recorrente da tensão imanente à relação com o “outro”. Se formos capazes de vislumbrar na condição do imigrante a presença insuperável desse “outro” que é susceptível de colocar em causa os limites da especificidade de uma cultura que temos como “nossa”, então as palavras de Marc Augé não poderiam ser mais apropriadas: “Talvez a razão porque os imigrantes preocupam tanto as comunidades já estabelecidas seja a de que estes revelam a natureza relativa das certezas inscritas na terra”.

Maria Luís Rovisco
Onde começa a diferença?
Apontamentos sobre minorias étnicas e diferença cultural nas sociedades contemporâneas.
Portugal Migrante, Celta

6 de fevereiro de 2008

Para ti


A boca ainda me sabe a Fevereiro, o ventre ainda anseia pelo último dia de um Outubro qualquer...
Mil anos depois, ainda preciso dos teus (a)braços. Encosta-te a mim.



Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar.
Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer.
Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes, entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.
Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.
Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
encosta-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.
Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.


Jorge Palma - Encosta-te A Mim