8 de fevereiro de 2008

Pensar a imigração


A diferença cultural, que se afigura, porventura, uma questão incontornável, tem assumido as mais diversas configurações no domino da teoria social. Desde a ensaio magistral de Simmel sobre a figura do “estranho” ou “estrangeiro” – cuja condição de pertença ao grupo implica tanto um estar fora deste como o confronto como próprio grupo – até às mais recentes “teorias da alteridade”, que, sob a influência do pensamento de Derrida, Foucault e Lévinas, têm animado os debates pós-estruturalistas e pós-modernos, de onde importa talvez, destacar a proposta mais radical de Kristeva que vê na possibilidade ou necessidade de ser um estranho uma condição inerente ao sujeito de vida contemporânea, percorreu-se um longo e sinuoso caminho, que contribuiu, sobretudo, para esclarecer o carácter recorrente da tensão imanente à relação com o “outro”. Se formos capazes de vislumbrar na condição do imigrante a presença insuperável desse “outro” que é susceptível de colocar em causa os limites da especificidade de uma cultura que temos como “nossa”, então as palavras de Marc Augé não poderiam ser mais apropriadas: “Talvez a razão porque os imigrantes preocupam tanto as comunidades já estabelecidas seja a de que estes revelam a natureza relativa das certezas inscritas na terra”.

Maria Luís Rovisco
Onde começa a diferença?
Apontamentos sobre minorias étnicas e diferença cultural nas sociedades contemporâneas.
Portugal Migrante, Celta

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