
Nem sempre ouvimos as mesmas canções,
não lemos os mesmos livros, também não gostamos dos mesmos canais de televisão,
temos pressupostos ético-religiosos diferentes, (para não dizer diametralmente
opostos) o que fez com que nunca concordássemos em nenhuma das matérias que
foram a referendo neste país.
Mas partilhamos, até agora, os valores essências:
entendemos do mesmo modo o que deve ser uma relação, somos absolutamente
consonantes na educação da cria, adoramos ser profundamente íntimos,
respeitamos as nossa individualidade, não temos qualquer dificuldade em
entender a necessidade do espaço e de liberdade do outro e conseguimos tornar
as nossas diferenças em desafios intelectuais que muitas vezes terminam em
gargalhadas (embora também não partilhemos o mesmo tipo de humor) acho até que
teríamos futuro na carreira diplomática (desde que não tivéssemos de trabalhar
um com o outro).
Assim, cá em casa trocam-se muitas
opiniões, discorda-se, mas raramente se discute. E poderia até nunca se
discutir que não houvessem dois temas que nos fazem levantar a voz, utilizar
termos mais escabrosos e até bater com as portas (o limite dos limites!) : a
arrecadação e a família.
Com estes o consenso nunca é possível!
Para mim a arrecadação deveria ser um
espaço de arrumação minimalista porque acredito mas leis universais do eterno
fluir e nos princípios do dar, do deitar fora, da limpeza e do asseio, para ele, a arrecadação é a tulha
alimentada pela sua faceta máscula ancestral de caçador-recoletor, no âmbito de
uma filosofia, talvez agora, hiper-ecológica de que tudo pode ser aproveitado, tudo
pode vir a fazer falta, tudo pode ser empilhado! (tenho que dar a mão à
palmatória pois talvez 2% do material que me impede de entrar na arrecadação já
foi necessário em uma ou noutra ocasião – mas isso compensará?).
O outro assunto, é mesmo O ASSUNTO,
aquele que nos opõe como dois Pit Bull em arena de competição: a família.
A minha família só tem 3 elementos. A minha família somos nós e a cria.
E a minha família alargada é composta por aqueles de
quem gosto e pelos meus amigos, aqueles que acorreria em qualquer circunstância
e que sei que o fariam por mim com o mesmo amor. Para ele, a família somos nós
mais os do seu sangue, cabem pais, irmãos, irmãs, tios, sobrinhos e sei lá mais o quê…
e aqui começa a discórdia que se acentua sobretudo em períodos festivos como o Natal,
a Páscoa e agora as férias grandes. O que para mim são períodos a passar a três
ou com amigos para ele são épocas de se reunir aos do seu sangue.
Eu, que não
entendo, por experiência de vida, essa coisa do sangue (o meu padrasto, que
adoro, não partilha necessariamente o meu sangue mas partilhamos o mesmo
feitio, o meu tio favorito, que me deu os melhores abraços do mundo, era-o por
afinidade, a minha irmã é orgulhosamente filha de outro pai e de outra mãe)
tenho muita dificuldade neste conceito de afeto que nasce de uma família
imposta porque por acaso se descendeu do cruzamento remoto de um óvulo e de um espermatozóide…
que estranho que isso é!
Nos próximos dias vem aí muita
discussão. (desculpem lá vizinhos!)
1 comentário:
Love you!
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