17 de julho de 2007

Intercalares de Lisboa



Alguém me interpelou ontem..."então não postas nada sobre as eleições?". E eu, fiquei a pensar: Nasci em Lisboa, vivo em Lisboa, fui votar...
Mas a coisa foi tão deprimente, tão desprovida de surpresa e interesse que não se me oferece escrever nada... nem sobre as velhinhas de Celorico de Basto do PS que pensavam que iam numa excursão a Fátima, nem sobre a ciclista Helena Roseta com capacete à maneira e sem cartão de eleitor, nem sobre a entrevista da mulher do Carmona a dizer que era muito importante mais uns votosinhos para ficar umas décimas à frente do Negrão, nem sobre o Negrão esfíngeo e isolado, nem sobre o"Ginjas- Palhaço" que fez a campanha do Manuel Monteiro...
Mas, como gostei muito deste artigo de opinião do João Miguel Tavares, no DN d'hoje, aqui fica:


OS VOTOS EM ANTÓNIO COSTA NÃO ENCHEM O ESTÁDIO DA LUZ

As eleições são muito dadas a percentagens, mas não há nada como os números redondos. E os números redondos são estes: nove em cada dez lisboetas não votaram em António Costa. Tudo bem somadinho, o alegado grande vencedor da noite obteve 57 907 votos. Já vi mais gente no Estádio da Luz durante um Benfica-Gil Vicente. Eleições em que todos os partidos dizem que ganham não é novidade. Mas eleições em que todos os partidos, do CDS-PP ao Bloco de Esquerda, efectivamente perderam nunca antes se tinha visto. Reparem:

Perdeu o PS. É verdade que foi o partido mais votado, mas classificar de vitória os seus anorécticos 29,5% só mesmo por piada. Costa teve menos votos do que Carrilho - e isso é descer muito baixo. Aliás, a máquina socialista acreditou tanto nos seus militantes que encheu a sede de campanha com camionetas do Norte. Os jornalistas tentavam falar com os incontornáveis "populares" e só encontravam gente de Cabeceiras de Basto. Eu até ouvi uma velhinha da ideia de Matusalém confessar que não fazia a menor ideia porque estava na capital numa noite de domingo. 62,6% de abstenção é preocupante, com certeza. Mas não tão preocupante quanto convocar militantes do Minho para abanar bandeirinhas em Lisboa.

Perdeu o PSD e o CDS-PP. Ser batido por Carmona Rodrigues é mais difícil do que eu ganhar à bola ao Cristiano Ronaldo - mas Fernando Negrão conseguiu. Negrão tem ar de ser um homem honesto, mas é tão eloquente como uma estátua da Ilha de Páscoa. Cada vez que o apanhei na televisão a fazer campanha ouvi sempre o mesmo: "Votar em António Costa é trazer o Governo para dentro da Câmara de Lisboa. Votar em António Costa é trazer o Governo para dentro da Câmara de Lisboa." Isso até o meu papagaio aprende a dizer.
Para um comentário sobre o CDS-PP, é favor substituir "Fernando Negrão" por "Telmo Correia".
Perdeu o PCP e o Bloco de Esquerda. Ambos caíram em número de votos e em percentagem. Um caso triste, sobretudo para o Zé, coitado, que estava tão convencido das suas virtudes. Infelizmente, não é possível gostar em simultâneo dele e do Túnel do Marquês. E o Túnel do Marquês dá imenso jeito.

Até Manuel Monteiro perdeu. Monteiro teve menos votos do que aquele senhor que não gosta de imigrantes, embora se expresse pior do que um ucraniano. A Nova Democracia foi ultrapassada pela velha xenofobia. A partir do momento que se perde para o PNR, só há uma coisa a fazer: colocar lençóis brancos em cima dos sofás, apagar as luzes e ir à procura de uma vida melhor. Adeus, Manuel.

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