“Mãe posso pintar as unhas?” pergunta o puto apertado na cadeira do banco de trás do carro. “Não, filho não podes, isso é coisa de menina!” respondo distraída. “Mas eu queria!” insiste o puto. “Ó filho, isso nem é coisa de menina, isso são coisas de mães, e olha para as mãos da mãe, a mãe não pinta !” assunto arrumado penso eu, e arranco no semáforo. “Mãe posso usar brincos?”, “não filho, isso também é coisa de meninas!” respondo, “mas tu usas!”, “ pois uso, eu sou uma menina e as meninas gostam de brincos”. Surpreendentemente ele calou-se e distraiu-se com o trânsito. Minutos depois “mãe, porque é que as meninas podem fazer tudo o que eu faço e eu não posso fazer o que elas fazem?” Porra, penso eu, tenho que contra-argumentar depressa, antes do sinal abrir, o que é que ele ganha actualmente em ser rapaz, o quê? o quê? recorro ao elementar, à mãe natureza “ mas os meninos podem fazer xixi de pé e na rua e as meninas não!” digo convictamente, ele aceita a resposta, volta a distrair-se com o trânsito e eu fico a pensar: de facto, os gajos estão cada vez mais em desvantagem, estas novas gerações não se podem rever nos arquétipos masculinos ancestrais mas não tem ainda novos padrões. Nós mudamos o mundo e eles não conseguem encontrar o seu lugar, nem um puto de 3,5 anos!
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