5 de novembro de 2007

Rezas de puto

Procurar um jardim de infância para uma criança neste país é uma aventura. Procurar um em Lisboa é uma saga, descobrir um no centro da cidade que não esteja a cair de podre e reúna o mínimo de condições de salubridade e habitabilidade é uma proeza. E assim, depois de várias visitas, inscrições, cunhas, comparações de preçários e algumas discussões conjugais, o puto acabou a frequentar um conhecido colégio católico na zona da Lapa. Ora, eu sei como sou, e não sou lá muito católica, e conheço suficientemente bem o meu filho, para saber que as coisas não vão ser assim tão perfeitas quanto o pai desejaria…

Num dia desta semana, estava o puto no meio do seu banho, “de espuma para relaxar” como ele pede, quando me começa a contar que tinha ido à missa lá no colégio e aprendido uma oração. Levanta a sua mãozinha direita põe-na na testa e começa “em nome do pai”, baixa a mão para o peito e olha para mim sem querer dar parte de fraco, mas certamente já sem se lembrar do resto da ladainha, “em nome….”, “…em nome”, olha de novo para mim, e avança convicto, “em nome da mãe!” e depois rapidamente com a mão num ombro e no outro “e de qualquer coisa, santo!”, “ámen” e junta as mãos dentro de água, fazendo saltar água da banheira para o chão. Às minhas gargalhadas juntaram-se muitos “améns”, a alegria foi enorme e a casa de banho ficou inundada, mas eu perdoei-lhe, pois só este puto seria capaz de corrigir este erro secular da igreja, pode lá existir bênção ou oração que não evoque a mãe!

Nota: por muito que goste da correcção e porque não o quero expulso logo no inicio do ano lectivo, disse-lhe rapidamente que não me parecia que fosse assim, disse-lhe a versão certa, mas aconselhei-o a perguntar melhor à educadora, no dia seguinte, como é que é aquela oração…

2 comentários:

Anónimo disse...

meu rico menino! o que é que lhe andam a fazer?


Patareca

Xanuca B disse...

Por favor, não aumentes as minhas dúvidas. Toda a gente me diz que mal não lhe faz... mas às vezes fico com o coração apertadinho, eu queria tanto um livre pensador.

Bjs e saudades