7 de abril de 2008

Os custos das crianças

A discussão sobre o montante das custas judicias dos processos de adopção que ocuparam todo o fim-de-semana, e onde parece o Governo recuo mais uma vez, irritaram-me solenemente. Só mesmo que não tem filhos, nem está preparado para os ter, pode reclamar pagar 500 e tal € pelo processo.·
Caros pretendentes a pais, esse montante é ínfimo relativamente aos custos que vão ter que assegurar quando forem pais de facto, e se não o podem, nem querem pagar então o melhor é desistir já.·Acaso sabem quanto custam as fraldas, e os leites e as papas, e os cremes para as borbulhinhas do rabiosque? E as consultas mensais ao pediatra (que é bom que seja privado para nos dar o número do telemóvel e nos esclarecer as nossas angustias de mães e pais a qualquer hora)? E quanto custam as creches (só aí vão os famigerados 500 € tão discutidos)? E as vacinas que estão fora do plano nacional de vacinação? E quanto custam os brinquedos e as idas à piscina? E quanto custa vestir e calçar aqueles pequenos seres que milagrosamente crescem todas as noites?·
E agora vamos conversar sobre os custos prévios ao nascimento da criança: as consultas mensais do obstetra (que é bom que seja privado para estar disponível quando realmente é preciso), as ecografias, a amniocentese (que o Estado só paga quando temos mais de 40 anos), as meias de descanso, a roupa de grávida, o enxoval do bebé e por fim os colossais custos com a maternidade, que é bom que seja privada para que o médico que nos assistiu durante a gravidez seja o que nos faz o parto, a ainda para que nós, as mães e os filhos, sejamos bem tratados e não se corram riscos desnecessários como anoxias neonatais e outras que tais, porque num público uma cesariana é feita quando existe equipa e quando se ultrapassaram todos os limites de qualidade de vida da mãe e/ou do filho.

Podia continuar uma infindável lista de custos, ainda maiores se a criança tiver deficiência ou uma qualquer doença crónica …·
E depois de tudo isto volto a repetir convictamente, quem não quer ou não pode pagar custas de um processo de adopção, certamente não poderá suportar a despesa de ter um filho… È que não é por acaso que a maioria dos casais só tem um, é porque de facto ter um filho é um luxo, muito, muito caro!

3 comentários:

Brisa disse...

Não consigo concordar que tenha de se pagar para adoptar um filho em Portugal. É um esforço demorado, nem sempre são ricos os que o fazem. Facilitar a adopção em todas as vertentes é, além de acautelar mazelas psicológicas nos órfãos e nos futuros pais, uma forma de o Estado dispender menos dinheiro neste tipo de instituição.
Por outro lado, também discordo que só recorrendo a serviços privados se consegue assegurar a saúde perfeita de uma gravidez/parto/bebé. Eu fiz tudo pelo público e não é por isso que tenho razão de queixa de quem for. O meu filho tem tido uma saúde perfeita... apesar de ser visto só pelo médico de família. Há bons e maus profissionais em todo o lado.
O que concordo é que se o nosso país precisa de nascimentos, então as famílias deveriam ser incentivadas a tê-los, e não obrigadas a pagar o dízimo: paga-se para adoptar, são raras as escolas/creches públicas que tenham uma mensalidade aceitável, são as despesas de saúde que têm limite para o IRS quer se tenha um filho ou dez, é o abono de família que só é dado a uns.
Mas isto é apenas a minha opinião.
Beijinhos!

Xanuca B disse...

Brisa, obrigada pelos comentários é bom ter retorno. Confesso que por vezes sou deliberadamente provocatória para promover a discussão!

Que bom que correu tudo bem contigo e com o teu filho, mas eu trabalhei demasiados anos com crianças com deficiência, o que justifica não confiar no sistema nacional de saúde sobretudo no que respeita ao acampanhamento das gravidez e dos partos...

Quanto ao resto, que pena que os incentivos à maternidade e á paternidade responsável e consciente sejam só palavras de circunstância ... e sobretudo que os novos apoios à natalidade só sejam dados aos muito pobres (lá podiamos começar outra discussão!!!!) e quem fica assim na média (já nem sei se há uma classe média), tem de pagar tudo, desde a educação á saúde e não recebe nenhum apoio...

Quem me dera ter condições para ter ou adoptar mais um filho, mas isso seria desastroso para a gestão do orçamento familiar.

Bjs

Xanuca

Brisa disse...

Xanuca,
(adoro o teu nick!)
Fazes bem em ser provocadora, porque discutir é saudável!
Pois, a nossa maneira de ver as coisas esté inevitavelmente ligada ao que experienciámos. Felizmente, sobre apoio médico não tenho nada de que me queixar. No entanto, não tenho dúvidas sobre os maus profissionais que exercem no público!
Segundo filho? pois sim, é uma daquelas decisões que tem de ser mesmo muito bem pensada porque - lá está - a haver algum apoio por parte do Estado é só para os pobres, porque para quem tiver um pouco mais de posses não há NADA. A classe dita média não é classe rica! É remediada!
Não é uma pena termos de condicionar uma decisão destas por causa de dinheiro??
Bjs