20 de janeiro de 2011

A escolha (por interesse) da Xanuca

Vivemos na ilusão do ideal, do perfeito, da romântica coincidência. Tendemos a achar que as escolhas que fazemos são orientadas pelo destino ou mesmo por qualquer inspiração divina. Mas aceitemos, todas as escolhas que fazemos são-no por interesse, pelo mais puro interesse (não se leia aqui a conotação comum e negativa de interesse, mas a sua definição etimológica, enquanto motivo, razão de escolha)!

Escolhemos os amigos, os companheiros, os pais dos filhos, porque são ricos ou porque são inteligentes, porque são gordos ou porque são magros, porque os admiramos, porque têm um carrão, porque são bonitos e altos, porque são mesmo bons na cama, ou pura e simplesmente porque nos fazem rir, porque os conhecemos desde sempre ou porque constituem o desafio do desconhecido, porque vivem no “mundo" ao qual queremos pertencer ou simplesmente porque já não suportamos mais a nossa solidão.

E assim, vamos vivendo entre estas escolhas interesseiras, e vamos sendo mais ou menos felizes em função das escolhas que fazemos.

Aproximam-se as presidenciais, e vamos ter de escolher.
Uns não terão dúvidas, são amigos, sabem que vão recolher dividendos, ou querem apenas manter o seu status quo, outros escolherão votar naqueles com os quais julgam partilhar ideais para conseguir um país melhor. Muitos votarão por puro desencanto, mesmo com raiva.

Eu, aqui me confesso, votarei por interesse, por puro interesse.

Não me inspira nenhum candidato, não encontro motivos racionais para votar em nenhum deles, não acredito na boa fé de nenhum, não gosto da sua sobranceria. As suas campanhas foram cinzentas, tristes e infelizes, mas…
... quero o meu marido em casa, tenho saudades de jantar em família, quero de novo tarefas partilhadas, quero ir ao cinema a dois, quero um gajo (adulto) na cama antes das 04.00h, quero que o telemóvel dele (nos parcos instantes que está ao pé de nós) pare de tocar compulsivamente, quero um fim-de-semana normal. Por isso vou votar (ainda que contrariada) para tentar evitar uma segunda volta. Vou votar, não para ter um país melhor, que sinto que não terei com nenhum destes candidatos, mas para que o meu filho durma a noite inteira (e não fique eternamente à espera que o pai chegue), para que a cadela pare de fazer xixi na cozinha (eu não consigo levá-la com frio e chuva à rua à meia-noite) e para que o meu martírio pessoal não se perpetue por mais uns tempos…

Já agora, se não tiverem nenhum interesse especial em qualquer um dos outros candidatos podem dar uma ajudinha à minha causa?

Muito agradecida pela colaboração!

2 comentários:

Brisa disse...

Eis um excelente argumento para ir votar.

leitanita disse...

Colaborei de maneira a que não houvesse 2ª volta, tb não suportaria! Apesar do imenso desencanto. Nunca votei com tão pouca convicção!