7 de março de 2011

O Festival da Canção



Grupo de Gel e Falâncio vence Festival RTP da Canção com canção que recupera e parodia a música de intervenção do PREC. Voto popular foi determinante.

Uma letra que fala da situação de crise que o país atravessa e uma música que recupera o imaginário da canção de protesto do PREC fazem A luta é alegria, a canção dos Homens da Luta que na noite de anteontem lhes valeu o passaporte para a primeira semifinal do Festival da Eurovisão, a realizar em Maio em Dusseldorf, na Alemanha.

O resultado da votação em directo para a RTP, decorrente da soma do televoto com os votos dos 20 júris distritais do país, desagradou a parte do público no Teatro Camões, em Lisboa, onde decorreu o 47.º Festival RTP da Canção.

A vitória dos Homens da Luta, um sexteto que tem como figuras dominantes os irmãos Nuno e Vasco Duarte (mais conhecidos como Gel e Falâncio), que há algum tempo irromperam na cena audiovisual, nomeadamente com programas de humor na SIC Radical e na Antena 3, foi determinada pelo voto popular. A luta é alegria somou 18 pontos (seis dos júris mais 12 do público), superando em apenas um ponto a segunda classificada, São os barcos de Lisboa, interpretada por Nuno Norte e que foi a eleita do júri nacional.

"Acto de comédia"

A luta é alegria tem letra de Gel e música de Falâncio, e foi interpretada por um grupo que representava arquétipos do imaginário pós-25 de Abril de 1974, com o militar, o operário, a camponesa e a revolucionária, sobre um fundo de cravos vermelhos. "De noite ou de dia, a luta é alegria/ E o povo avança é na rua a gritar", diz o refrão da canção, cuja vitória originou - tanto no Teatro Camões como no espaço virtual da Internet - reacções desencontradas.

Alguns vêem na canção mais uma expressão do mal-estar da "geração à rasca" e um fenómeno idêntico ao da canção Parva que sou, dos Deolinda; outros reduzem-na a uma má imagem para Portugal levar ao país de Angela Merkel...

Para o crítico de televisão Eduardo Cintra Torres, o facto de a vitória dos Homens da Luta ter sido determinada pelo voto do público vem associar-se claramente ao fenómeno Deolinda e à contestação do statu político actual. A performance dos irmãos Gel e Falâncio é "um acto de comédia usado contra a política, mas também uma forma de fazer política", diz este analista do audiovisual português e cronista do PÚBLICO.

Sobre o espectáculo e as reacções no Teatro Camões, Cintra Torres diz que ele seguiu o figurino habitual, mas que os Homens da Luta o fizeram "implodir por dentro".

José Fragoso, director de programas da RTP, contesta a ideia de que a vitória do grupo de Gel-Falâncio traga algo de extraordinário ou de diferente relativamente a edições anteriores do festival. Viu os apupos e o abandono de espectadores no Teatro Camões no final como "uma reacção normal dos perdedores", dos partidários dos outros concorrentes, mais do que qualquer manifestação de outra ordem. Fragoso lembra que metade da plateia era formada por familiares e amigos dos intérpretes das 12 canções concorrentes.

Sobre as regras da votação, o responsável pela programação da RTP diz que elas são as mesmas dos outros países participantes no Festival da Eurovisão. O programa foi o 14.º mais visto do dia, com uma audiência de 709 mil espectadores.

Após o anúncio dos resultados, Gel disse que a vitória dos Homens da Luta se devia ao "voto do povo". "Camaradas, a todos aqueles que gostam, muito obrigado; a todos aqueles que não gostam, mais obrigado ainda. A luta é alegria, e nós vamos à Alemanha mostrar isso, que Portugal não é só fado", disse o líder do grupo.

Gel e Falâncio surgiram no panora- ma mediático português com um programa na SIC Radical, Vai Tudo Abaixo, e algumas intervenções de rua inesperadas aproveitando a cobertura televisiva de casos e situações, como a do encerramento da Universidade Independente ou a tomada de posse do Governo de José Sócrates. No ano passado, já com o seu grupo actual, concorreram pela primeira vez ao Festival da Canção com o tema Luta assim não dá. A canção seria desclassificada por não ser inédita e violar, assim, o regulamento do concurso.

Jornal Público, 07.03.11



Desde miúda que as noites de festival são especiais para mim. Mas há muito que não me divertia tanto.Que grande noite ! De repente Abril chegou ao festival da canção, implodiu-o , baralhou-o, virou tudo do avesso. Uma "não canção" ganhou, uma posição política vingou pelo voto telefónico, ainda que alguns júris de capitais de distrito insuspeitas, como Viseu, lhe tenham atribuído a pontuação máxima. Fiquei fascinada, como a música pode voltar a ser, como antes de 74, uma arma de arremesso, uma afirmação, uma contra posição, uma reacção. Fui para a cama a rir... a pensar no impacto que esta brincadeira pode ter na Eurovisão, e na própria orgânica dos próximos festivais nacionais... ou muito me engano, ou as canções concorrentes passarão por um crivo mais apertado, quem sabe pintalgadas de azul.... pois certamente houve uns senhores que tiveram insónias depois de umas chamadas telefónicas...


E malta da luta vejam lá em que avião é que se metem a caminho da Alemanha, não vá ele explodir!

3 comentários:

Brisa disse...

Tive pena de não ter visto, mas não sabia que era no Sábado. Mas já percebi que a vitória dos Homens da Luta deixou muiiiita gentinha incomodada. Primeiro foi a Parva que Sou a ganhar protagonismo. Agora, isto... :)

Xanuca B disse...

Tive a sorte de ver após o almoço uma promoção ao Festival. Senão também tinha perdido aquele BRUTAL espetaculo. :) e eu que nunca vejo RTP!

leitanita disse...

Og azar dos azares não vi mas pelos vistos perdi um GRANDE ESPECTACULO! Será que o meu compadre não tem a coisa gravada?