16 de abril de 2009

A lei do sexo obrigatório

Ontem inesperadamente, depois de jantar, o comando da televisão veio parar à minha mão. O gajo não liga a mínima a futebol (digam lá que não tenho um marido espectacular) e foi para o escritório acabar um trabalho, e o puto abdicou do seu canal Panda para ir para o quarto fazer sozinho e sem ajudas, como muito bem frisou, um puzzle novo que eu lhe tinha acabado de oferecer. Assim, eis-me repentinamente só na sala e senhora daquele rectângulo que comanda a tv.

Pois bem, comecei a zapar os noticiários, passei o futebol, claro está, e parei na TVI, onde por segundos fiquei face à promessa de ver lá mais para o fim do noticiário um valente japonês de proveta idade que ainda é estrela de filmes porno lá na sua terra. Excelente notícia, por sinal, mais para o senhor do que para nós é claro, mas as opções editoriais dos noticiários são o que são e quem não quiser ver, é só mudar... e era justamente o que ia fazer quando entra uma peça com uma manifestação de mulheres nas ruas de Cabul, no Afeganistão, contra uma lei aprovada recentemente pelo governo de Hamid Karzai, segundo a qual os maridos podem exigir ter relações sexuais com as mulheres de quatro em quatro dias, sem elas poderem recusar.

Enquanto via as imagens daquelas mulheres que gritavam contra a legalização da violação dentro do casamento e da repressão aos seus direitos enquanto mulheres, os meus pensamentos dispersavam-se entre que raio de governo é aquele que não tem mais nada que fazer que legislar sobre a sexualidade dos seus cidadãos, que estúpidos tipos são aqueles que não devem saber nada sobre sedução e sexualidade e se têm que escudar atrás de uma lei desprezível para aliviarem os seus instintos básicos, e eis que começo a imaginar a própria da lei: será que especifica o tempo obrigatório do coito, o número de gemidos exigíveis, as posições que devem ser utilizadas, a lei abordará o número de orgasmos aconselháveis ou nem por isso, (será que é permitido às mulheres gemer, gritar impropérios no acto e ter orgasmos?) e as dimensões exigíveis dos falos dos machos (mínima e máxima), não entrarão na lei? E aqueles homens que não conseguirem cumprir as funções de quatro em quatro dias serão punidos, espancados, multados… ou os senhores afegãos não sofrem de disfunção eréctil, stress e afins que lhes anule a libido. E quando as mulheres acabam de parir, a lei aplica-se? E quando estão menstruadas e ficam impuras lá nos seu cânones? E quando estão doentes? Á morte mesmo… continuarão a ter que abrir as pernas de quarto em quatro dias? E porquê quatro dias? E não três ou cinco? Existirá alguma explicação religiosa ou cabalística para o número? Tantas questões me assolam e revolvem o estômago, mas tenho esperança que lá se legisle tão bem como cá e todas as questões sejam remetidas para decretos regulamentares que sairão um dia, e desta forma nunca será possível aplicar a (mal)dita lei.

Ironias à parte, o que estes criaturos (parece-me que o conceito de homens não se lhes pode aplicar) pretendem é o inatingível, querem controlar evocando os seus deuses, os nossos poderes supremos: do amor, da sensualidade, da sedução, do erotismos, da maternidade, mas esses serão sempre nossos e só nossos e nenhuma lei os poderá castrar, porque a dimensão do feminino é demasiado incompreensível até para o homens, quanto mais para os estúpidos criaturos do Afeganistão.

5 comentários:

Anónimo disse...

nao ha mais nada a dizer, tu ja disseste tudinho!!!
o k ainda é pior é k infelizmente esse tipo de leis nao é so no afeganistão mas tb em grande parte do mundo muçulmano...

Brisa disse...

Com isto disseste tudo: "a dimensão do feminino é demasiado incompreensível". Os homens nunca hão-de deixar de nos recear porque somos de facto intangíveis. Por isso, aplicam toda a sua força - física - para sufocar essa intangibilidade. Coitados!

leitanita disse...

Ups! Que belas são as "leis"...

Missanguita disse...

Gosto muito de viver em Portugal.

R disse...

Nessa área do Mundo as mulheres não têm quasquer direitos. Nem sobre os filhos que geraram.Até me admira, tendo em atenção o que elas valem (zero), não serem obrigadas a ter relações sempre que os maridos queiram. Todos os dias ou só 1 vez por ano, enfim, quando os seus senhores as procurarem. É melhor estarmos no mundo ocidental, apesar de tudo.