Ontem inesperadamente, depois de jantar, o comando da televisão veio parar à minha mão. O gajo não liga a mínima a futebol (digam lá que não tenho um marido espectacular) e foi para o escritório acabar um trabalho, e o puto abdicou do seu canal Panda para ir para o quarto fazer sozinho e sem ajudas, como muito bem frisou, um puzzle novo que eu lhe tinha acabado de oferecer. Assim, eis-me repentinamente só na sala e senhora daquele rectângulo que comanda a tv.
Pois bem, comecei a zapar os noticiários, passei o futebol, claro está, e parei na TVI, onde por segundos fiquei face à promessa de ver lá mais para o fim do noticiário um valente japonês de proveta idade que ainda é estrela de filmes porno lá na sua terra. Excelente notícia, por sinal, mais para o senhor do que para nós é claro, mas as opções editoriais dos noticiários são o que são e quem não quiser ver, é só mudar... e era justamente o que ia fazer quando entra uma peça com uma manifestação de mulheres nas ruas de Cabul, no Afeganistão, contra uma lei aprovada recentemente pelo governo de Hamid Karzai, segundo a qual os maridos podem exigir ter relações sexuais com as mulheres de quatro em quatro dias, sem elas poderem recusar.
Enquanto via as imagens daquelas mulheres que gritavam contra a legalização da violação dentro do casamento e da repressão aos seus direitos enquanto mulheres, os meus pensamentos dispersavam-se entre que raio de governo é aquele que não tem mais nada que fazer que legislar sobre a sexualidade dos seus cidadãos, que estúpidos tipos são aqueles que não devem saber nada sobre sedução e sexualidade e se têm que escudar atrás de uma lei desprezível para aliviarem os seus instintos básicos, e eis que começo a imaginar a própria da lei: será que especifica o tempo obrigatório do coito, o número de gemidos exigíveis, as posições que devem ser utilizadas, a lei abordará o número de orgasmos aconselháveis ou nem por isso, (será que é permitido às mulheres gemer, gritar impropérios no acto e ter orgasmos?) e as dimensões exigíveis dos falos dos machos (mínima e máxima), não entrarão na lei? E aqueles homens que não conseguirem cumprir as funções de quatro em quatro dias serão punidos, espancados, multados… ou os senhores afegãos não sofrem de disfunção eréctil, stress e afins que lhes anule a libido. E quando as mulheres acabam de parir, a lei aplica-se? E quando estão menstruadas e ficam impuras lá nos seu cânones? E quando estão doentes? Á morte mesmo… continuarão a ter que abrir as pernas de quarto em quatro dias? E porquê quatro dias? E não três ou cinco? Existirá alguma explicação religiosa ou cabalística para o número? Tantas questões me assolam e revolvem o estômago, mas tenho esperança que lá se legisle tão bem como cá e todas as questões sejam remetidas para decretos regulamentares que sairão um dia, e desta forma nunca será possível aplicar a (mal)dita lei.
Ironias à parte, o que estes criaturos (parece-me que o conceito de homens não se lhes pode aplicar) pretendem é o inatingível, querem controlar evocando os seus deuses, os nossos poderes supremos: do amor, da sensualidade, da sedução, do erotismos, da maternidade, mas esses serão sempre nossos e só nossos e nenhuma lei os poderá castrar, porque a dimensão do feminino é demasiado incompreensível até para o homens, quanto mais para os estúpidos criaturos do Afeganistão.
5 comentários:
nao ha mais nada a dizer, tu ja disseste tudinho!!!
o k ainda é pior é k infelizmente esse tipo de leis nao é so no afeganistão mas tb em grande parte do mundo muçulmano...
Com isto disseste tudo: "a dimensão do feminino é demasiado incompreensível". Os homens nunca hão-de deixar de nos recear porque somos de facto intangíveis. Por isso, aplicam toda a sua força - física - para sufocar essa intangibilidade. Coitados!
Ups! Que belas são as "leis"...
Gosto muito de viver em Portugal.
Nessa área do Mundo as mulheres não têm quasquer direitos. Nem sobre os filhos que geraram.Até me admira, tendo em atenção o que elas valem (zero), não serem obrigadas a ter relações sempre que os maridos queiram. Todos os dias ou só 1 vez por ano, enfim, quando os seus senhores as procurarem. É melhor estarmos no mundo ocidental, apesar de tudo.
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