27 de abril de 2007

Opiniões



Todas as sextas-feiras de manhã vou direitinha ao DN à procura da crónica da Fernanda Câncio. Os seus artigos de opinião são (quase) sempre uma lufada de ar fresco, pela inteligência e pela ironia. Não resisto a postar a de hoje ...

AS 'SENHORAS DE' DA OUTRA SENHORA
Fernanda Câncio- Diário de Notícias

Como quase toda a gente, na madrugada do "dia inteiro e limpo" eu estava a dormir. Fui acordada pela minha mãe, que entrou pelo quarto adentro a gritar, "Há uma revolução". Se fôssemos aquilo a que se dava o nome de "gente do regime", é bem provável que o grito da minha mãe soasse a desespero e à urgência de fazer as malas. Como não éramos, foi de excitação e alegria que ela gritou, para logo depois nos pedir que tivéssemos cuidado nos transportes revolucionários, não fosse a coisa dar para o torto. Não tenho a certeza, mas acho que, com revolução e tudo, como não houvesse nada de anormal nas ruas, fui à escola. Lembro-me de ver os soldados nas portagens da auto-estrada. E mais nada. Tudo o resto vi na TV. Ainda hoje me comovem aquelas imagens um pouco ridículas dos soldados a fazer pose sobre os chaimites e do Largo do Carmo cheio, do Francisco Sousa Tavares empoleirado numa árvore de megafone na mão e dos rostos espantados de toda a gente. Estávamos todos espantados. Claro que, como frisou Cavaco Silva e muitos outros antes dele, é difícil explicar ou fazer perceber a quem não viveu o antes e o depois o motivo desse espanto e a necessidade de o celebrar. Pode-se tentar, mas também não parece provável que essa tentativa tenha qualquer sucesso se a ideia for restringi-la a um dia no ano. Outra questão, mais fácil de resolver, é certificar que as comemorações oficiais do 25 de Abril não desmereçam o 25 de Abril. Mas olha-se para o programa do dia, tal como distribuído aos participantes da "sessão solene", e tem-se a ideia de que se está a ler um documento dos anos trinta. Um documento recheado de salamaleques bolorentos, de "Senhoras de" : "a Senhora de Jaime Gama", "a Senhora de Cavaco Silva", "a Senhora do Doutor Jorge Sampaio", "a Senhora do Doutor Mário Soares", mais "as senhoras dos anteriores primeiros-ministros". O 25 de Abril veio e foi e o protocolo do Estado, apesar de ter sofrido um bem recente aggiornamento legal, continua a beber nuns pergaminhos quaisquer de antanho. Pergaminhos de um tempo em que a mulher recebia do marido um nome que suprimia o dela, numa prestidigitação simbólica que torna duas pessoas numa. E que encontraram em Sá Carneiro, um primeiro-ministro não casado com a mulher com quem vivia, um engulho complicado. Sá Carneiro, nos anos oitenta, combateu o bolor à sua maneira, impondo Snu Abecasis ao protocolo, talvez até como "a senhora de Sá Carneiro". Foi o primeiro round. Mas não houve mais nenhum. O segundo abanão seria obviamente o de extirpar do protocolo quem lá não tem cabimento. Cônjuges de eleitos, sejam homens ou mulheres, casados ou solteiros, não são nem devem querer ser figuras de Estado. Ponto final. Como o não é - nem deve querer sê-lo nem parecê-lo - o cardeal-patriarca. O tradicionalismo exacerbado do protocolo de Estado não é só ridículo: é, no seu simbolismo, a certificação de que o deslumbramento daquele dia primordial e o novo olhar que ele inaugurou ainda não sacudiram de vez os restos dessa "outra senhora" que nós, os que acordámos a 25 de Abril de 1974 a acreditar que tudo mudara, gostaríamos de já ter deixado lá atrás, tão lá para trás que já nem merecessem discussão.

1 comentário:

Anónimo disse...

Se pensarem bem


Desabafo de uma mulher moderna...
Um pouco longo, mas .....VALE A PENA LER, PORQUE NÃO DEIXA DE SER UM PONTO DE VISTA INTERESSANTE

Monólogo de uma mulher moderna:

"São 5.30H da manhã, o despertador não pára de tocar e não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede.

Estou acabada. Não quero ir trabalhar hoje.

Quero ficar em casa, a cozinhar, a ouvir música, a cantar, etc. Se tivesse um cão levava-o a passear nos arredores.

Tudo menos sair da cama, meter a primeira e ter de por o cérebro a funcionar.

Gostava de saber quem foi a bruxa imbecil, a matriz das feministas que teve a ideia de reivindicar os direitos

da mulher e porque o fez connosco que nascemos depois dela?

Estava tudo tão bem no tempo das nossas avós, elas passavam o dia todo a bordar, a trocar receitas com as suas amigas,

ensinando-se mutuamente segredos de condimentos, truques, remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos seus maridos,

decorando a casa, podando árvores, plantando flores, recolhendo legumes das hortas e

educando os filhos. A vida era um grande curso de artesãos, medicinas alternativas e de cozinha.

Depois ainda ficou melhor, tivemos os serviços, chegou o telefone, as telenovelas, a pílula, o centro comercial,

o cartão de credito, a Internet!

Quantas horas de paz a sós e de realização pessoal nos trouxe a tecnologia!

Até que veio uma tipa, que pelos vistos não gostava do corpinho que tinha, para contaminar as outras rebeldes

inconsequentes com ideias raras sobre "vamos conquistar o nosso espaço" Que espaço?! Que caraças!

Se já tínhamos a casa inteira, o bairro era nosso, o mundo a nossos pés!!! Tínhamos o domínio completo dos nossos homens,

eles dependiam de nós, para comer, vestirem-se e para parecerem bem à frente dos amigos e agora? Onde é que eles estão???

Nosso espaço???!!! Agora eles estão confundidos, não sabem que papel desempenham na sociedade, fogem de nós como o diabo da cruz.

Essa piada... , acabou por encher-nos de deveres.

E o pior de tudo acabou lançando-nos no calabouço da solteirice crónica aguda!!!!

Antigamente os casamentos eram para sempre. Porquê? Digam me porquê, um sexo que tinha tudo do melhor que só necessitava de

ser frágil e deixar-se guiar pela vida começou a competir com os machos? A quem ocorreu tal ideia?

Vejam o tamanhão dos bíceps deles e vejam o tamanho dos nossos! Estava muito claro que isso não ia terminar bem.

Não aguento mais ser obrigada ao ritual diário de ser magra como uma escova, mas com as mamas e o rabo rijos,

para o qual tenho que me matar no ginásio, ou de juntar dinheiro para fazer uma mamoplastia, uma lipo, ou implantes nas nádegas...

Alem de morrer de fome, pôr hidratantes, anti-rugas, padecer do complexo do radiador velho a beber agua a toda a hora e

acima de tudo ter armas para não cair vencida pela velhice, maquilhar-me impecavelmente cada manha desde a cara ao

decote, ter o cabelo impecável e não me atrasar com as madeixas, que os cabelos brancos são pior que a lepra, escolher bem a roupa,

os sapatos e os acessórios, não vá não estar apresentável para a reunião do trabalho.

E não só, mas também ter que decidir que perfume combina com o meu humor, ter de sair a correr para ficar engarrafada no transito

e ter que resolver metade das coisas pelo telemóvel, correr o risco de ser assaltada ou de morrer numa investida de um autocarro

ou de uma mota, instalar-me todo o dia em frente ao PC, trabalhar como uma escrava, moderna claro esta, com um telefone ao ouvido a

resolver problemas uns atrás dos outros, que ainda por cima não são os meus problemas!!! Tudo para sair com os olhos vermelhos - pelo

monitor, porque para chorar de amor não há tempo!

E olhem que tínhamos tudo resolvido, estamos a pagar o preço por estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes,

perfumadas, unhas perfeitas, operadas, sem falar do currículo impecável, cheio de diplomas, de doutoramentos e especialidades,

tornámo-nos super-mulheres mas continuamos a ganhar menos que eles e de todos os modos são eles que nos dão ordens!!!!

Que desastre! Não seria muito melhor continuar a cozer numa cadeira?? Basta!!!

Quero alguém que me abra a porta para que possa passar, que me puxe a cadeira quando me vou sentar, que mande flores,

cartinhas com poesias, que me faça serenatas à janela!

Se nós já sabíamos que tínhamos um cérebro e que o podíamos utilizar para quê ter que demonstra-lo a eles??

Ai meu Deus, são 6.10H, e tenho que levantar-me da cama... Que fria está esta solitária e enorme cama! Ahhhh...

Quero um maridinho que chegue do trabalho, que se sente ao sofá e me diga: Meu amor não me trazes um whisky por favor?

ou: O que há para jantar?

Porque descobri que é muito melhor servir-lhe um jantar caseiro do que atragantar-me com uma sanduíche e uma Coca-Cola light

enquanto termino o trabalho que trouxe para casa. Pensas que estou a ironizar ou a exagerar?

Não minha queridas amigas, colegas inteligentes, realizadas liberais.... e idiotas!

Estou a falar muito seriamente:

Abdico do meu posto de mulher moderna."

E digo mais:

A maior prova da superioridade feminina era o facto de os homens esfalfarem-se a trabalhar para sustentar a nossa vida boa!

Agora somos iguais a eles!

Ai ai!!!