19 de março de 2007

Nacional Voiyeurismo



Cada vez que acontece uma desgraça existe um gene luso que impele uma massa de gente a acorrer ao local. A coisa roçou exageros de bestialidade, quando gente do sul foi a Entre-os-Rios, provavelmente na expectativa de encontrar mais um cadáver, ou quando gente do norte desceu ao Algarve, ao lugar, onde provavelmente, também a Joana acabou cadáver.
É assim no dia à dia, quando até um vulgar acidente provoca uma fila enorme em sentido inverso, porque cada condutor procura sangue, lágrimas e chapa amolgada do lado de lá da estrada.
Mas o que é que esta gente procura?
Emoções fortes, porque a sua vida é um tédio?
Desgraça, para confirmar que aquela em que vive não é assim tão grave?

Hoje, não havia sangue, não cheirava a morte, mas há nesta estória um não sei que de desgraça a pairar no ar, talvez a pobreza e a boçalidade, por isso o povo e a comunicação social acorreram à aldeia onde vai viver a Joana/Andreia Elisabete. Invadiram o local, pisaram terrenos cultivados, avassalaram propriedade privada, bateram à porta, quase arrancaram as persianas: Todos queriam ver a menina! Não arredavam pé sem ver a menina! (Mas porque diabo é que todos queriam tanto ver a menina – é só um bebé de 13 meses, igual a todos os outros com a mesma idade).

O povo, gritou, comeu, bebeu (muito) e a menina lá foi exibida na janela qual troféu de caça. O povo urrou de felicidade, aplaudiu, as Tv´s captaram tudo, não sei se alguns fizeram directos, mas seriam bem capazes disso, mas lá no fundo o povo continuou frustrado por não poder tocar, sentir, cheirar uma boa desgraça.

Eles passaram a tarde em grande, eu continuo enojada e envergonhada!

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